Comitê do Banco Central cita cenário externo adverso, inflação resistente e expectativas desancoradas para justificar manutenção da taxa Selic em patamar elevado por mais tempo
Em ata divulgada nesta terça-feira (13), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central destacou o agravamento das incertezas econômicas globais e reforçou a necessidade de manutenção dos juros elevados por um período prolongado. O documento foi publicado após a decisão de elevar a taxa básica Selic para 14,75% ao ano.
Segundo o Copom, o cenário internacional segue marcado por tensões geopolíticas e indefinições quanto à condução da política monetária dos Estados Unidos, o que amplia a volatilidade nos mercados e afeta economias emergentes como o Brasil. A palavra “incerteza” aparece oito vezes ao longo do texto, ilustrando a preocupação do Comitê com a imprevisibilidade atual.
“A combinação entre choques de tarifas e de incerteza, ainda que passível de mensuração, possui efeitos difíceis de estimar com precisão”, aponta a ata. O Comitê avalia que a desaceleração da economia global está mais intensa do que o previsto, em especial nos EUA, que enfrentam o desafio de equilibrar inflação elevada e desaceleração econômica.
Diante desse contexto, o Copom ressalta a importância de preservar a credibilidade das metas de inflação e de adotar uma política monetária prudente. No Brasil, o ambiente externo incerto, aliado à volatilidade do câmbio, exige uma postura cautelosa e vigilante na condução dos juros.
Economia em desaceleração
No âmbito doméstico, o Comitê reconhece que a atividade econômica e o mercado de trabalho seguem resilientes, mas já mostram sinais de moderação. A expectativa é de que essa desaceleração se intensifique nos próximos trimestres, como efeito direto da política monetária mais restritiva.
“A política de juros já impacta o crédito, as expectativas de empresários, o câmbio e os balanços das empresas”, diz o documento. Esse esfriamento da economia é visto como necessário para o controle da inflação, que ainda se mantém acima do centro da meta estabelecida.
As projeções do Copom indicam inflação de 4,8% em 2025 e 3,6% em 2026, ambas acima do alvo estipulado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). As expectativas seguem desancoradas e exigem, segundo o Comitê, um esforço adicional para restaurar a credibilidade do regime de metas.
Riscos e política fiscal
A ata também detalha os principais riscos para a trajetória da inflação. Entre os fatores de alta estão a persistência das expectativas desancoradas, a pressão sobre os preços de serviços e a depreciação cambial. Já os riscos de baixa incluem uma desaceleração mais acentuada da economia interna ou global e a queda dos preços das commodities.
Em relação à política fiscal, o Comitê reconhece que o estímulo dado nos últimos anos teve papel relevante na sustentação da atividade econômica, mas alerta para os riscos de um descompasso entre as políticas fiscal e monetária. Para o Copom, é essencial que o regime fiscal seja percebido como sustentável, de modo a reduzir o prêmio de risco e contribuir para a convergência da inflação.
O documento também aponta preocupações com o enfraquecimento de reformas estruturais, o aumento do crédito direcionado e as incertezas em torno da estabilização da dívida pública — fatores que, segundo o Comitê, podem elevar a taxa de juros neutra da economia brasileira e comprometer a efetividade da política monetária.
Selic seguirá elevada
Diante do cenário descrito, o Copom decidiu aumentar a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, indicando que os juros permanecerão elevados enquanto for necessário para garantir a convergência da inflação à meta.
Para as próximas reuniões, o Comitê adotou tom cauteloso e evitou sinalizações claras, citando o “elevado grau de incerteza” e o “estágio avançado do ciclo de aperto monetário”. A continuidade do atual ritmo dependerá da evolução dos dados de inflação, das expectativas do mercado, da atividade econômica e do balanço de riscos.
Composição do Copom
A diretoria do Copom atualmente é composta por Gabriel Galípolo (presidente do Banco Central), Ailton Aquino (Fiscalização), Diogo Guillen (Política Econômica), Gilneu Vivan (Regulação), Izabela Correa (Relacionamento e Supervisão de Conduta), Nilton David (Política Monetária), Paulo Picchetti (Assuntos Internacionais e Riscos), Renato Gomes (Organização do Sistema Financeiro) e Rodrigo Alves Teixeira (Administração).
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