Indicador de comércio mostra que balança comercial acumula saldo de US$ 57,5 bilhões até novembro
Entre janeiro e abril, o superávit acumulado na balança comercial de 2022 era maior do que o de 2021, o que levou a estimativas otimistas por parte do Ministério da Economia quanto ao resultado do ano de 2022. Posteriormente, na presença de quedas sucessivas do saldo com a China, em especial, as projeções foram sendo reajustadas e, em outubro, o ministério estimou um saldo de US$ 55,4 bilhões. Em ambos os casos, o resultado seria inferior ao superávit de 2021, que foi de US$ 61 bilhões. O Indicador de Comércio Exterior (Icomex) foi divulgado nesta segunda-feira (19) pela Fundação Getúlio Vargas Instituto Brasileiro de Pesquisas Econômicas (FGV IBRE).

A balança comercial de novembro surpreendeu. Se em novembro de 2021, o saldo foi negativo em US$ 1,1 bilhões, em igual período de 2022, o saldo foi positivo no valor de US$ 6,7 bilhões. Isso levou a que o saldo acumulado até novembro fosse de US$ 57,5 bilhões, em 2022, próximo ao saldo de US$ 57,4 bilhões, em 2021. Será possível repetir ou superar o resultado de 2021? Isso exige que em dezembro, o superávit fique próximo a US$ 4 bilhões.

É preciso analisar o que explica o superávit de US$ 6,7 bilhões, em novembro. Na comparação interanual do mês de novembro entre 2021 e 2022, as exportações cresceram, em valor, 37,4% e as importações recuaram em 0,6%. O aumento das exportações foi liderado pelo volume exportado (26,1%), pois o aumento nos preços foi de 8,4%. No caso das importações, foi registrada queda no volume e aumento de preços. São resultados que diferem daqueles associados à comparação interanual dos acumulados no ano até novembro. Nas exportações, a variação dos preços supera a do volume e nas importações, o mesmo ocorre, porém, com variação positiva no volume importado.

A análise por grupo de produto mostra que a melhora das exportações foi liderada pelas vendas de commodities. A variação no volume exportado de commodities, na comparação mensal, foi de 30,3%, um valor bem superior ao resultado no acumulado das exportações de commodities (4,1%). Como cerca de 70% das exportações brasileiras são commodities, está explicado o resultado do aumento do volume das exportações.

A análise por mercado de destino mostra que a principal contribuição para a melhora do superávit foi da China. O superávit da balança bilateral Brasil-China passou de US$ 500 milhões para US$ 2,1 bilhões, um ganho de US$ 1,6 bilhões. No caso dos Estados Unidos, o segundo principal parceiro, o déficit recuou de US$ 1,5 bilhões para US$ 795 milhões, ganho de US$ 700 milhões. No grupo dos 20 principais parceiros do Brasil, foi registrado um ganho no saldo comercial, embora todos abaixo ou igual a US$ 500 milhões, exceto Espanha, com igual ganho ao dos Estados Unidos.

A evolução dos índices de volume das exportações brasileiras para a China mostra que após quedas sucessivas na comparação interanual mensal, desde maio de 2021, com alguns pontos de exceção, como fevereiro de 2022, só foram registrados aumentos em outubro e em novembro (45,2%) de 2022 (Gráfico 3 do release). Observa-se ao mesmo tempo, que os ganhos com os aumentos de preços em 2021 não mais se repetiram. O aumento de volume, portanto, é que está por traz da melhora da balança comercial com a China e sua contribuição para o aumento do superávit do Brasil, em novembro.

Um ponto deve ser ressaltado. Em setembro de 2021, o governo chinês proibiu as importações de carne bovina oriunda do Brasil, o que só foi suspenso em 15 de dezembro do mesmo ano. Os dados de exportações, em valor, mostram um aumento de 23.333% das exportações brasileiras desse produto para a China, na comparação entre novembro de 2021/novembro de 2022. O produto foi o quarto principal produto de exportação (participação de 7,1%). Em adição, o petróleo bruto, o principal produto exportado, com participação de 31,6%, registrou variação positiva de 127%, em valor. No caso da carne bovina, não está assegurado que essa mesma ordem de variação acima de 20.000% irá se repetir.

Ressalta-se que a contribuição da China, ao longo do ano, para o aumento das exportações foi negativa em termos de volume. Na comparação entre o acumulado do ano até novembro de 2021 e 2022, a queda no volume exportado foi de 5,7%, enquanto que para todos os outros mercados a variação foi positiva. Observa-se que, mesmo com a crise argentina, as exportações para esse país cresceram impulsionadas pelos acordos em vigor no setor automotivo. Para a União Europeia, restrições de ofertas, associadas à Guerra da Ucrânia, favoreceram as exportações de petróleo bruto, que explicaram 18% do total das vendas brasileiras para esse mercado.
No caso das importações, a China lidera a variação nas importações. Entre os 10 principais produtos importados pelo Brasil, a China foi o principal ofertante em cinco desse grupo, no período do acumulado do ano até novembro.
Câmbio, nível de atividade doméstica e o nível de atividade externa estão entre os principais fatores macroeconômicos para explicarem os resultados da balança comercial de um país. No entanto, é preciso incorporar entre esses fatores, a influência da economia da política comercial. Parte do comércio internacional é regido por regras, como mostra a melhora do saldo comercial com a China em novembro, com efeitos sobre a balança comercial do Brasil.
Índices de preços e volume por tipo de indústria
A variação do valor exportado entre os meses de novembro de 2021 e 2022 foi de 68% para a agropecuária, 41,6% para a indústria extrativa e 28,7% para indústria de transformação. Na comparação do acumulado do ano até novembro, a variação foi liderada igualmente pela agropecuária, com aumento de 38,4%, seguida da indústria de transformação, 28,4%. Nessa comparação, a indústria de transformação registrou queda de 6,6%.
A variação positiva, em valor, para todos os setores foi liderada pela variação no volume na comparação interanual do mês de novembro. No setor de agropecuária, para a variação de 33,8%, destaca-se o aumento, em volume, de 153% de milho, que foi o principal produto exportado pela agro. Na indústria extrativa, a variação de 52% no volume foi liderada pelas vendas de petróleo bruto, com aumento de 135%. Entre os cinco principais produtos exportados pela indústria de transformação, as maiores variações, em volume, foram: óleos combustíveis (152%) e carne bovina (84%).

Na comparação entre os acumulados do ano até novembro, os preços lideram o aumento em valor da agropecuária (35%), pois o aumento do volume foi de 2,4%. O mesmo comportamento para a indústria de transformação, mas a diferença nas variações é menor, sendo 16,5% (preços) e 9,9% (volume). Na indústria extrativa foi registrado recuo nos preços (3,3%) e no volume (2,7%).
Nas comparações interanuais, os resultados de novembro divergem do padrão que dominou em quase todos os meses, onde a variação dos preços liderou o desempenho exportador.
Entre novembro de 2021 e de 2022, o valor das importações da agropecuária e da extrativa caíram 24,1% e 19,9%, respectivamente, e a variação foi positiva para a indústria de transformação (4,6%). A queda é explicada pela retração no volume, 30,5% (agropecuária) e 37,7% (extrativa), pois a variação dos preços foi positiva. Na indústria de transformação, a variação do volume foi próxima de zero e os preços aumentaram 4,3%.
Na comparação do acumulado do ano até novembro, o volume recuou para a agropecuária, cresceu 2,8% para a extrativa e 3,2% para a transformação. Em todos os setores a variação dos preços foi positiva e acima de 15%, sendo de 88,1% na indústria extrativa.
Para o aumento, em volume, das exportações em novembro, a principal contribuição foi de bens não duráveis (33%), seguida de bens intermediários (27,7%), bens de capital (9,6%) e bens duráveis (1,4%). Na comparação do acumulado do ano, a ordem não é a mesma. A liderança ficou com os bens semiduráveis (18,1%), seguidos dos bens duráveis (16,6%), bens de capital (10,8%), bens não duráveis (8%) e bens intermediários (3,6%). O aumento dos bens duráveis, nesse último caso, é explicado pelas vendas do setor automotivo para a Argentina. O principal produto exportado para esse país, no acumulado do ano, foi veículos automóveis para transporte (em valor, aumento de 11%) e o segundo, automóveis de passageiros, com crescimento de 48%. Na comparação mensal de novembro, os dois produtos registraram queda em relação a novembro de 2021, o que indica que o ciclo de expansão desses bens duráveis para a Argentina se esgotou no final do ano.
As importações de semiduráveis lideraram, em volume (41,5%), seguidas das de bens de capital (27,6%), na comparação mensal do mês de novembro. Chama a atenção o recuo das compras de bens intermediários, que é um indicador do nível de atividade. A desagregação por setor mostra que essa queda foi maior na agropecuária (47,3%) do que na indústria (7,1%). No caso dos bens de capital, o aumento foi de 75% para a agropecuária e 27,7% para a indústria de transformação. O setor da agropecuária mostra uma expectativa mais favorável de expansão do que a indústria de transformação, quando identificamos as importações de bens de capital como indicador de aumento dos investimentos (Gráfico 9 do release).
No acumulado do ano, a variação em volume dos bens de capital foi de 14,5%. Novamente a diferença entre a agropecuária e a transformação é alta. A variação das compras de bens de capital para a agro foi de 60,7% e para a transformação, de 14,5%.
(FGV)