Cenário sugere mais duas elevações no primeiro trimestre. Apesar do bom desempenho econômico, déficit público afeta câmbio e juros
A ata da reunião do Comitê de Política Econômica (Copom) do Banco Central (BC) apresentou pessimismo no cenário de juros, indicando que poderá elevar a taxa básica para até 14,25% em março, após as reuniões de janeiro e março – mesmo com a elevação de 11,25% para 12,25% na semana passada. “O Comitê então decidiu, unanimemente, pela elevação de 1,00 ponto percentual na taxa Selic e pela comunicação de que, em se confirmando o cenário esperado, antevê ajuste de mesma magnitude nas próximas duas reuniões”, informa. O resultado fez o dólar superar R$ 6,17, o que forçou o BC vender US$ 1,27 bilhão em reservas para conter a sangria.
Divulgada na manhã desta terça-feira (17), o documento apresenta de maneira mais detalhada as justificativas para as decisões do colegiado. Em nenhum momento o Copom citou recessão, mas os humores dos agentes do mercado e o problema aparentemente insolúvel do déficit público fragilizam a moeda e abrem espaço para apostas especulativas mais agressivas. “A desancoragem das expectativas de inflação é um fator de desconforto comum a todos os membros do comitê e deve ser combatida”, comunicou o Copom.
No cenário interno, apontou: “A inflação cheia e as medidas subjacentes têm se situado acima da meta para a inflação e apresentaram elevação nas divulgações mais recentes. As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus elevaram-se de forma relevante e encontram-se em torno de 4,8% e 4,6%, respectivamente.”
O principal ponto no ambiente externo vem “da conjuntura econômica nos Estados Unidos, o que suscita maiores dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed [banco central dos EUA]”.
O aspecto otimista da análise considera que “persiste um cenário de atividade resiliente com dinamismo maior do que esperado, como evidenciado na divulgação do PIB do terceiro trimestre, levando a nova reavaliação de um hiato mais positivo”, baseado principalmente na “conjunção de um mercado de trabalho robusto, política fiscal expansionista e vigor nas concessões de crédito amplo segue indicando um suporte ao consumo e consequentemente à demanda agregada. Em particular, o ritmo de crescimento do consumo das famílias e da formação bruta de capital fixo indica uma demanda interna crescendo em ritmo bastante intenso, apesar da política monetária contracionista”.
Em contrariedade, é considerada uma deterioração de curto prazo, com os preços de alimentos em alta por causa de estiagem. Essa elevação contribuiria para um efeito inercial sobre os bens industrializados, já impactados pelo câmbio, até chegar aos serviços, “tornando a convergência da inflação à meta mais desafiadora”.
Votaram por essa decisão os seguintes membros do comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Gabriel Muricca Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.