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Trump e o “Big Stick” em versão econômica

Nas escolas, o bullying geralmente divide os alunos em três grupos. O primeiro se posiciona ao lado do valentão que assola os colegas, se fragmentando entre quem ajuda a aterrorizar os outros e quem é apenas conivente com a agressão. Há também aqueles que, deixados de lado, preferem fazer vista grossa e ignorar os ataques que ocorrem no ambiente escolar. Por fim, temos as vítimas, que sofrem a ação direta dos abusadores.

Desde a semana passada, o cenário internacional parece ter se transformado em um pátio de escola: o presidente Donald Trump resolveu inaugurar um novo estilo diplomático, o do bullying internacional. Em vez de tapas e safanões, a arma de Trump é o tarifaço sobre importações.

É a política do “my way or the highway”. Com o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, foi assim. Ele reclamou das condições sofridas por deportados colombianos em um voo para Bogotá e Trump aumentou as tarifas de importação dos produtos da Colômbia. Petro afinou e as sobretaxas foram anuladas. O americano também avisou seu colega russo, Vladimir Putin, que ele tem 100 dias para acabar com a guerra na Ucrânia – caso contrário, vai ter de enfrentar um aumento significativo de tarifas (mas, nesse caso, Putin está longe de ser uma vítima).

Nos filmes que tratam de bullying escolar, sempre aparece alguém para defender os agredidos e dar uma lição ao brutamontes. No caso da diplomacia internacional, no entanto, dificilmente alguém vai enfrentar o poderio econômico americano. Dessa forma, Trump tem grandes chances de obter sucesso em sua estratégia de bravatas, reeditando o que fez Theodore Roosevelt no início do Século 20.

Roosevelt repetia com constância um ditado africano: “fale com suavidade, mas tenha à mão um grande porrete (“Big Stick”, no original)”. Os Estados Unidos, naquela época, inauguraram uma era na qual mostraram que poderiam intervir militarmente em qualquer país que pudesse interferir em seus interesses. Trump, em vez de armas, prefere falar grosso e usar o bastão econômico – talvez um instrumento muito mais poderoso do que uma esquadra de porta-aviões.

No episódio em que brasileiros foram deportados para o Brasil com mãos e pés algemados, houve um constrangimento desnecessário, mas não há muito o que se fazer, a não ser acionar os mecanismos necessários para que isso não ocorra novamente.

Toda a guerra de narrativas que surgiu após o desembarque dos brasileiros em Manaus acabou diminuindo a importância de duas questões cruciais sobre o assunto.

A primeira: os americanos têm todo o direito de deportar imigrantes ilegais de seu território. E os brasileiros possuem grande tradição neste quesito. Houve até uma novela da TV Globo “(“América”) sobre uma personagem, vivida pela atriz Deborah Secco, que cruzava ilegalmente a fronteira do México para se estabelecer em Miami – e lá encontrava muitos compatriotas na mesma situação que ela. Mas isso não faz destes brasileiros necessariamente criminosos de alto calibre.

Outro ponto relevante: o filósofo americano Ralph Waldo Emerson dizia que “uma instituição é a sombra estendida de um homem”. Os agentes americanos podem ter se comportado desta forma por achar que tinham de agir com força exagerada em função do discurso anti-imigração de seu presidente.

Na votação que definiu o ato institucional número cinco em 13 de dezembro de 1968, o único voto contrário foi o do vice-presidente Pedro Aleixo. Segundo o folclore político, o marechal Arthur da Costa e Silva falou com ele após a reunião e o questionou sobre o voto contrário: “Você não confia em mim?”. O vice teria respondido: “No senhor eu confio. Eu não confio é no guarda da esquina”.

Se for comprovado abuso de autoridade, os agentes americanos terão agido como os guardas de trânsito aos quais supostamente Pedro Aleixo de referiu. Em 2025.

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Comentários

Uma resposta

  1. Claro que não me cabe discutir a política implantada (pra não dizer IMPOSTA) por Donald Trump, para o mundo. Inclusive, sob o “ponto de vista americano” tem várias coisas que ele levanta que até fazem sentido. Mas, jamais, procedimentos que firam as normais internacionais de direitos humanidade. Sua reconhecida truculência e arrogância não são, nem de longe boas conselheiras. Sabemos que nenhuma nação, neste complexo mundo em que vivemos hoje, é 100% autônoma. Autossuficiente. E “comprar briga com todo mundo”, certamente não é o melhor caminho. Eu, apesar de leigo, acredito que este “jogo de cena, neste 1° ato do espetáculo de Trump, irá mudar, se acomodar e entrar num caminho mais “razoável”. Caso contrário, vejo com grande preocupação, o cenário para os próximos anos. Suas bravatas e a máxima “America first”, não será, evidentemente, aceita de forma pacífica e submissa por players como China, Russia, dentre outros. Enfim, aguardemos para assistir os próximos atos.

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