“Quem não gosta de samba, bom sujeito não é; é ruim da cabeça ou doente do pé”. Tirado da canção “O Samba da Minha Terra”, composição de Dorival Caymmi imortalizada na voz de João Gilberto, esse verso foi recitado para mim diversas vezes ao longo da minha vida. Não que eu desgoste de um sambinha – mas tenho verdadeira ojeriza àquilo que se chama de samba-enredo. Por tabela, também não sou fã do Carnaval e considero o desfile de escolas de samba uma das coisas mais monótonas da face da Terra.

Meu pai é um dos maiores conhecedores de música brasileira. E eu sou um fã do rock’n roll (Freud explicaria isso muito bem). Mas meu filho seguiu o avô e sabe a história dos desfiles como poucos – além de ser um entusiasmado torcedor da União da Ilha. Eu, de meu lado, tenho sono ao acompanhar os 90 minutos de uma escola na passarela do samba. Uma das razões pelas quais me irrito é a repetição da música: na melhor das hipóteses, a letra do samba enredo é entoada pelo menos 30 vezes. Para quem gosta, um prato cheio. Aos detratores, como eu, uma verdadeira tortura.

Já fui duas vezes à Marquês de Sapucaí e uma vez ao Polo Cultural e Esportivo Grande Otelo, a passarela do Anhembi. Confesso que me preparei psicologicamente para essas experiências e o resultado não foi tão ruim como eu esperava. Ao vivo, a grandiosidade dos carros alegóricos é impressionante – assim como o som da bateria, que faz o coração de qualquer um bater mais rápido.

Poder desfrutar de um feriado sem desfiles é para mim um privilégio. Mas me solidarizo com aqueles que se sentem órfãos do Sambódromo. Entendo perfeitamente o que é ser privado daquilo que se gosta. Portanto, sei que esse feriado ideal para mim é triste para muitos fãs do samba. Mas a espera deverá ser curta: daqui a quarenta dias, ao final de abril, teremos a volta dos desfiles. Não vou acompanhá-los pela televisão. Mas, por causa do meu filho, torcerei em silêncio pela União da Ilha.