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Controlar fake news é como enxugar gelo

Temos, nas redes sociais, um falso sentimento de liberdade absoluta. Somos regulados de perto pelos donos destes sistemas, seus executivos e até pelos administradores de grupos. É como o laissez-faire na época do capitalismo selvagem. Havia liberdade total para que se ajustassem preços, salários, direitos e deveres no mercado. Mas, como existia um número incipiente de indústrias, os controladores do capital podiam fazer o que quisessem, impondo jornadas de trabalho extenuantes, estimulando a mão de obra infantil ou combinando ações em cartel. Portanto, havia uma sensação de livre mercado apenas da porta para fora das empresas. Do lado de dentro, o que importava era a vontade dos donos – e isso tinha efeito direto naquilo que ocorria na praça de negócios.

No mundo digital, temos liberdade total para postarmos o que quisermos, de xingamentos a fake news, de fotos familiares a notícias extraídas da imprensa. Porém, teremos, depois, que lidar com as regras de quem controla os meios de comunicação, seja através dos algoritmos das redes ou dos curadores de conteúdo (no Brasil, temos ainda uma outra categoria de curadoria – o poder Judiciário).

Trata-se de uma realidade paralela na qual certos papéis se invertem. Como é difícil coibir as fake news, temos um desfile de posts que publicam mentiras descaradas, invencionices sem pé nem cabeça e teorias da conspiração estapafúrdias. Boa parte deste conteúdo vem da chamada extrema direita. Por outro lado, aqueles que mais se incomodam com os fakes e manifestações daquilo que se definiu como discurso de ódio são os que estão no espectro ideológico de esquerda – e desejam combater tais publicações.

Portanto, estamos vivendo em uma época na qual, grosso modo, a Esquerda quer estabelecer um determinado tipo de censura e a Direita deseja liberdade total de expressão.  

É isso mesmo?

Do lado da esquerda, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fala em controlar a imprensa. Para estender esse controle às redes sociais seria um caminho relativamente curto. Quem se alinha com esta tese (não necessariamente apenas esquerdistas) muitas vezes age desta forma em função da quantidade assombrosa de notícias falsas e insidiosas que se encontra no ambiente digital. A única saída, na visão dessas pessoas, seria impor algum tipo de controle e sanções pesadas aos usuários que forem flagrados disseminando a mentira.

Mas estamos falando de um mundo eletrônico. Autores de fakes podem se esconder atrás de servidores localizados na antiga Cortina de Ferro e postar com outra identidade notas que forem canceladas.

Controlar este mundo guarda semelhanças com o controle de preços. Todos que passaram por esta experiência sabem o quanto é ilusório congelar os valores das mercadorias por decreto. Como dizia o economista austríaco Friedrich Hayek, achar que alguém pode monitorar preços é o mesmo que acreditar que se controla a velocidade de um carro apenas segurando no ponteiro de seu velocímetro.

Com o conteúdo online, há um fenômeno semelhante. Um post é proibido? Quase que instantaneamente outro, com características semelhantes, é publicado. Censurar esse tipo de informação (ou desinformação) é como enxugar gelo. É um trabalho inútil e pode durar para sempre.

Do lado da direita (ou de quem não se sente representado pelos meios de comunicação), a internet surgiu como uma forma de se disseminar um pensamento conservador, que não recebia atenção dos veículos de imprensa (com algumas exceções). As redes sociais, assim, se tornaram um veículo importante para este público. O problema é que, nesse caso específico, temos uma verdadeira enxurrada de conteúdo fake que é publicada e replicada por estes indivíduos (em escala menor, contudo, isso também acontece com os chamados posts de esquerda).

O que podemos fazer?

Controlar é inútil e trabalhoso. O melhor talvez seja treinar o olhar dos usuários das redes sociais. Como jornalista, tenho que quase um sexto sentido para esse tipo de coisa. Pela redação ou tipo de argumentação, percebo com facilidade 90 % das mentiras digitais nos primeiros cinco segundos de leitura. Posso garantir: a maioria esmagadora das fake news não sobrevive a dois (repito: dois) minutos de pesquisa no Google.

Ou seja, as pessoas precisam fazer duas coisas diante de algo suspeito. Não repostar imediatamente uma mensagem ou uma publicação e checá-la em um mecanismo de busca. Muitas vezes, é só clicar no link que acompanha o post – há casos em que o tal link está lá apenas para dar credibilidade à mensagem, mas o assunto original é outro.

Essa regra, no entanto, não vale para todos. Muitos dos que repassam um fake o fazem porque desejam acreditar naquele conteúdo e não se preocupam em checar a informação. Por isso, é algo inevitável. Teremos que conviver com esse tipo de flagelo durante um bom tempo – e não existe, no curto prazo, nenhuma medida eficaz que possa ser tomada para coibir essa inundação digital de barbaridades.

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