Hoje é um dia especial para nós, de MONEY REPORT: comemoramos cinco anos da divisão “Agenda de Líderes”, que reúne 170 parceiros, entre empresários e executivos, e realiza quase cem eventos por ano, sobre economia, política e negócios (virtuais e presenciais). Mas, no bojo destes seminários e workshops, temos sempre duas preocupações. Uma é defender a agenda liberal, o estado de direito e a democracia. Outro é celebrar a figura do empreendedor, do empresário e dos principais executivos das empresas.
Acreditamos na força empreendedora. Na centelha que surge da criatividade, da inquietude e da vontade de progredir. Do poder que existe em criar riqueza a partir de uma ideia e da resiliência que brota nesses indivíduos de pele grossa, que resistem a inúmeras forças contrárias – um ambiente inóspito de negócios, com impostos abusivos e uma teia legislativa de controles que sufoca o empreendedorismo e faz 60 % das empresas fecharem suas portas antes dos cinco anos de atividade.
De um lado, podemos explicar essa alta taxa de mortalidade com a vocação intervencionista do estado e a fome de leão em abocanhar recursos através de tributos (se o estado fosse menor, pagaríamos menos impostos – mas vamos deixar essa discussão para outro dia). De outro, no entanto, pode-se justificar esses fechamentos pelo perfil dos empreendedores de primeira viagem. Muitos deles entram nessa vida por falta de alternativa, mas não têm temperamento para isso. O empreendedor, antes de mais nada, tem que saber vender. Mas também precisa ser um líder motivador de seus colaboradores. E alguém que consiga aprender finanças e gerir o caixa do empreendimento. Precisa também ser conservador em certos momentos e muito ousado em outros. Sempre resistindo às intempéries e com uma fé inabalável no futuro, acreditando no crescimento.
São necessárias inúmeras características para botar uma empresa de pé e fazê-la durar. Por isso, não é uma vida para todos. Apenas uma minoria consegue equilibrar vários pratos giratórios ao mesmo tempo e isso explica o porquê da quebra muitos empreendimentos (outra estatística: 21% vão à lona no primeiro ano de atividades).
Estamos falando de gente que faz das tripas coração para manter um negócio vivo – esforço este que se multiplicou durante a pandemia. Somente isso já seria uma razão para celebrarmos os empresários de êxito ou mesmo aqueles empreendedores que despontam na imprensa, muitos deles nascidos em famílias muito humildes.
Porém, o Brasil trata mal o sucesso, para citar o imortal maestro Tom Jobim. O criador de “Águas de Março”, que tem “brasileiro” até em seu nome (Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim) tinha razão em se queixar. Ele foi acusado de americanização de sua obra por críticos que preferiam ignorar a genialidade de suas composições.
Esse mesmo fenômeno ocorre com os empresários nacionais. Em vez de ser festejados, esses indivíduos são vistos com ironia, desdém e até raiva por uma parte significativa da sociedade – e não é apenas a esquerda que tem essa visão.
Somos treinados a não gostar do empresariado desde que somos crianças e jogamos “Banco Imobiliário” (a tradução torta que usamos para o jogo “Monopoly”). Como se sabe, o objetivo deste passatempo é fazer de um só jogador o dono de todos os empreendimentos do tabuleiro, o que passa uma imagem subliminar de que o empresário é sempre um sujeito inescrupuloso, monopolista e que faz qualquer coisa para ganhar. Isso é verdade em alguns casos. Afinal, o ser humano é imperfeito e isso vale também para os líderes da iniciativa privada. Mas daí a fazer desta crença uma regra é um enorme exagero.
Mas os empresários precisam lidar com essa imagem, que é forte especialmente nos países com predominância religiosa católica. Um exemplo disso é a frase “por detrás de uma grande fortuna há um crime”, dita por Honoré de Balzac. O escritor francês, o favorito do socialista Fiedrich Engels, viveu o pior momento do capitalismo selvagem: o início da revolução industrial. Ele mesmo foi um empreendedor que fracassou duas vezes ao explorar o mundo das gráficas, então nascente. Portanto, é possível entender as razões que o levaram a dizer esta máxima.
O poder das palavras, entretanto, é impressionante. Esta frase, com cerca de duzentos anos, atravessou gerações e é repetida até hoje, quando a sociedade é bem diferente daquela que existia na primeira metade do século 19 e os empresários atuais pouco têm a ver com aqueles que iniciaram o sistema capitalista. Especialmente as grandes empresas possuem mecanismos de controle e de compliance para evitar abusos e explosões de autoritarismo por parte de seus executivos.
O capitalismo, neste sentido, reencarnou alguma vezes até chegar no formato atual, no qual investidores têm um papel de fomento significativo na criação de novas empresas e a tecnologia abre novas frentes de negócios a cada dia. Empreendedores digitais com uma alta capacidade de empatia comandam suas companhias de uma forma totalmente diferente da de vinte anos atrás. Este estilo irá prosperar? Ainda é cedo para dizer, mas as chances são altíssimas.
Por fim, os empresários mostraram uma face desconhecida até pouco tempo atrás – a capacidade de se organizar politicamente e deixar a moita. Durante anos, investiram anonimamente em diversos candidatos, para ficar bem com todos os partidos. Mudanças na lei criaram um comportamento diferente. Hoje, esses dirigentes empresariais contribuem geralmente com os nomes que têm um perfil ideológico mais próximo dos seus. Além disso, não têm vergonha de declarar seu voto.
Em 2018, muitos seguiram a onda e votaram em Jair Bolsonaro, principalmente com receio da volta do PT ao poder. Agora, um grupo bastante razoável desses eleitores se mostra arrependido com a escolha e busca viabilizar um terceiro nome para as eleições do ano que vem. Aqui, a questão importante não é saber se esses empresários estão certos ou errados em suas escolhas políticas – e sim que eles estão exercendo o direito de opinar e se organizar para colocar suas ideias em prática.
Uma característica que muitos empreendedores perdem quando suas empresas crescem é a humildade. Muitas vezes, o sucesso traz um efeito colateral pernicioso – a arrogância. Mas, no dia de hoje, é possível ver empresários e executivos que passam longe de um comportamento arrogante e, com isso aprendem muito. São pessoas movidas pelo combustível da curiosidade, que procuram sempre novas oportunidades e sabem que podem absorver novas ideias se mantiverem a mente aberta. São seguidores da máxima de Bill Gates, não à toa um dos homens mais ricos do mundo. “Os clientes mais insatisfeitos sempre serão a sua maior fonte de aprendizado”, diz ele.
Vamos separar o joio do trigo e celebrar quem merece ser celebrado. Exemplos de inovação, de cidadania, de resiliência, de marketing, de vendas, de visão estratégica, de inclusão, de gestão financeira, de administração de talentos – enfim, a lista é enorme. Mas não podemos deixar de festejar o sucesso de quem merece reconhecimento e tem uma trajetória brilhante. Precisamos resgatar o respeito que empresários e empreendedores merecem e incluí-los cada vez mais na tomada de decisões importantes para o país.