Os números da última pesquisa Quaest mostram que dois terços da população brasileira não querem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou o ex-presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2026. Lula tem sua candidatura à reeleição rejeitada por 66% dos entrevistados e Bolsonaro por 65%. Este fenômeno ocorre inclusive entre seus apoiadores: são 16% dos lulistas e 38% dos bolsonaristas que preferem seus líderes longe das urnas no ano que vem.
Outro dado importante é o empate técnico entre Lula e cinco nomes que representam a direita em simulações de segundo turno para 2026. Lula empata com o próprio Bolsonaro (que está inelegível), Tarcísio de Freitas, Michelle Bolsonaro, Ratinho Jr. e Eduardo Leite. É a primeira vez que isso ocorre. Antes, apenas o ex-presidente conseguia ficar em igualdade de condições com o petista.
A combinação destes dois fatores é um sinal de que a polarização política brasileira pode estar passando por um momento de metamorfose, embora tardia. Desde 2018, tivemos um embate radical envolvendo expoentes da esquerda e da direita (Lula e Bolsonaro – ou seus prepostos), Agora, a polarização parece estar migrando para o campo das ideias, deixando as pessoas físicas em segundo plano.
Desta forma, é impressionante que cinco nomes da direita consigam empatar, em maior ou menor grau, com Lula. Neste processo, evidentemente, é preciso levar em consideração a decadência evidente do capital político do atual presidente, que passa por um longo período de impopularidade.
Lula tem apenas uma esperança: 60% dos brasileiros dizem não conhecer as últimas medidas do governo para turbinar a renda dos trabalhadores, como a isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5.000,00 mensais (em vigor a partir de 2026).
O problema é que a desaprovação de Lula não parece ter a ver com questões econômicas ou trabalhistas. A maioria da população o rejeita por não se identificar com seu discurso. O Brasil mudou nos últimos tempos e um líder na linha “pai dos pobres”, uma das abordagens preferidas do PT, perdeu grande parte do apelo. Não é à toa, portanto, que 60% dos jovens entre 16 e 34 anos desaprovem o presidente. Tal índice é uma boa pista para entendermos o envelhecimento das ideias petistas e o atoleiro no qual a imagem de Lula afunda.
Ele pode se recuperar a tempo de ter competitividade no ano que vem, até porque, em política, tudo pode acontecer. Mas, se sua popularidade continuar a diminuir – e a rejeição à candidatura crescer – a desistência pode vir a ser a melhor alternativa para o presidente no ano que vem.