Nesta semana, li o livro “John, Yoko e eu”, do radialista americano Elliot Mintz. Meus amigos sabem de meu fanatismo pelos Beatles, com ênfase e John Lennon e Paul McCartney. É por essa razão que leio todas as publicações que saem sobre os Fab Four – ou sobre a maior dupla de compositores da história. De uns tempos para cá, no entanto, não havia topado com muitas novidades sobre o tema e tudo o que lia me parecia ser requentado de outros textos.
Não é o caso do livro de Mintz (na imagem, com Lennon e Yoko Ono). Em 1971, ele entrevistou Yoko por telefone para seu programa de rádio e teve a grande presença de espírito de dar palco a ela, sem perguntar nada sobre John. Por conta disso, a sra. Lennon passou a telefonar regularmente ao radialista e seu marido começou a participar dessas conversas, muitas vezes ligando sozinho para Mintz.
Com o tempo, ele ficou amicíssimo do casal e, com a morte de Lennon, foi declarado por Yoko como inventariante oficial de todos os bens materiais do ex-beatle. Ele cita, por exemplo, que John tinha 27 óculos de grau e ainda guardava a roupa usada na capa do disco “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band” e o terninho que vestiu no primeiro show do programa do apresentador americano Ed Sullivan. São histórias imperdíveis, que contam a intimidade do casal e mostram como cada um deles pensava e se comportava.
Mas o que me chamou a atenção mesmo é uma história do próprio autor, que mostra a importância da iniciativa e do senso de oportunidade. No dia 22 de novembro de 1963, o presidente John Kennedy foi assassinado em Dallas, criando uma das maiores comoções que se tem notícia nos Estados Unidos. Ele estudava na Los Angeles City College e todos os alunos foram instruídos a irem para casa. A turma de sua classe, porém, resolveu ficar e acompanhar a cobertura do assassinato por uma TV da faculdade (a transmissão de Walter Cronkite que se transformou em um dos momentos mais importantes do jornalismo moderno).
Após algumas horas, as primeiras fotos do atirador, Lee Harvey Oswald, começaram a aparecer na tela. Um de seus colegas o reconheceu e disse que havia servido com ele na Marinha. Mintz, então, o levou para outra sala e gravou uma entrevista sobre aquele que era o homem mais famoso dos EUA no momento. Pegou a fita, foi para casa e telefonou para a maior estação de rádio da cidade:
– Alô? Meu nome é Elliot, sou estudante da Los Angeles City College e acabei de entrevistar um homem que serviu nos Fuzileiros Navais com Lee Harvey Oswald. Estariam interessados na fita?
Em minutos, um motoboy pegou o tape e a entrevista foi ao ar. Órgãos de imprensa de todo o mundo passaram a telefonar para Mintz, que teve até uma entrevista veiculada no telejornal CBS Evening News. Com isso, ele ganhou notoriedade no meio radiofônico e obteve sua chance de entrevistar celebridades na estação KPFK.
Rapidamente, ele percebeu que teria de ser ousado para ganhar destaque na profissão. Uma vez, comprou um livro que tinha o endereço da atriz Jayne Mansfield. Escreveu uma carta pedindo uma entrevista e, alguns dias depois, ela mesma ligou para confirmar a conversa. Em outra ocasião, topou com o ator Sal Mineo em um bar e pediu uma entrevista ali mesmo. Também obteve sucesso.
O comportamento do radialista Mintz vale para qualquer profissão – engenheiro, economista, biólogo ou advogado. Nossos sentidos precisam estar aguçados o tempo todo para saber qual é a hora em que uma oportunidade aparece. Nesse momento, não podemos ser tímidos.
Jà tive alguns momentos do gênero e nunca me arrependi. É como diz o cantor e compositor Geraldo Vandré, em uma música que motivava as esquerdas no passado e hoje é entoada por manifestantes de direita: “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. É isso. Saiba fazer a sua hora, como fez Elliot Mintz. Aconteça.