Muitos anos atrás, fui à Missa de Sétimo Dia em homenagem a um amigo que estava no rol das celebridades na época. Ao ver a igreja lotada, o padre surpreendeu-se e resolveu dar uma bronca no público, afirmando várias vezes que o local não deveria ficar cheio apenas porque alguém famoso havia falecido. Perdeu uma boa oportunidade de tocar o coração dos presentes, preferindo uma reprimenda endereçada a quem estava ainda digerindo o desaparecimento de uma pessoa dileta.
Hoje, ao navegar pelas redes sociais, lembrei-me desta passagem ao deparar com uma infinidade de posts sobre a morte do humorista Paulo Gustavo, levado muito cedo pela Covid-19. A morte dos famosos é um choque para a sociedade, pois traz à tona um assunto incômodo — o fim da vida de alguém — e, ao mesmo tempo, nos impele a homenagear quem partiu. Nesta circunstância em particular, o humorista era praticamente uma unanimidade: sua personagem mais famosa, a Dona Hermínia, baseada na própria mãe, conseguia arrancar gargalhadas até dos mais zangados seres humanos.
Trata-se de uma tragédia: um jovem talentoso e famoso tem a vida ceifada no auge de sua carreira. Ele deixa o legado de encarar a causa da inclusão com sensibilidade e bom humor. Várias passagens dos filmes da série “Minha Mãe é uma Peça” primam por mensagens de aceitação e acolhimento, que fizeram muitas pessoas refletirem sobre os próprios preconceitos e entenderem que o mundo de hoje é marcado, antes de mais nada, pela diversidade.
A morte dos famosos serve sempre como um alerta para a fragilidade de nossa existência. Mas, ao mesmo tempo, funciona como uma “wake up call” coletiva. Mostra que a Covid-19 é traiçoeira e precisa ser combatida, pois também leva pessoas jovens, saudáveis e internadas em hospitais de primeira linha. E, no caso de Paulo Gustavo, traz ainda uma mensagem adicional – a de que, mais do que nunca, precisamos respeitar aqueles que têm escolhas e estilos de vida totalmente diferentes dos nossos.