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O exemplo de John Rockefeller Jr. contra a intolerância

Cerca de 100 milhões de pessoas visitam o Rockefeller Center, em Nova York, todos os anos. Toda a vez que estou na cidade, faço questão de passar por lá. Meu interesse, no entanto, não é ver a pista de patinação no gelo, a estátua do gigante mitológico Atlas, a árvore de Natal, os estúdios da NBC ou a loja da FAO Schwartz. Sempre fico alguns minutos apreciando uma placa de mármore verde, localizada bem no meio do complexo, que é ignorada por 99,9% dos visitantes.

Neste retângulo de dois metros quadrados, está uma das maiores manifestações de sabedoria que já li na vida. Trata-se da reprodução de um discurso de John Davison Rockefeller Junior proferido pelo rádio em julho de 1941, alguns meses antes da entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial. Após sua morte, em 1960, esta placa com o speech radiofônico foi instalada no Rockefeller Center, sua maior inciativa empresarial.

Esta é a íntegra do discurso:

“Creio no valor supremo dos indivíduos e em seu direito à vida, liberdade e busca da felicidade.  Creio que todo direito implica uma responsabilidade, toda oportunidade uma obrigação, toda propriedade um dever. Creio que a lei foi feita para o homem, não o homem para a lei, e que o governo é servo do povo, não seu senhor. Creio na dignidade do trabalho, feito com a cabeça ou com as mãos; que o mundo não deve ao homem algum recurso para viver, mas que deve a todos uma oportunidade para ganhar a vida. Creio que a poupança é essencial a uma vida bem organizada e que a austeridade é requisito básico de uma sólida estrutura financeira, no governo, nos negócios ou nos assuntos pessoais. Creio que a Verdade e a Justiça sejam fundamentais para uma ordem social duradoura”.

“Creio no caráter sagrado de uma promessa. Que a palavra do homem vale tanto quanto seu compromisso escrito, que o caráter – não riqueza, força ou posição – é o valor supremo. Creio que a prestação de serviços úteis é dever comum da humanidade, e que somente no fogo sacrificador as impurezas do egoísmo são queimadas e a grandeza da alma humana é libertada. Creio em Deus, qualquer que seja seu nome, e que riqueza, felicidade e realização dos indivíduos estão em harmonia com a vontade divina. Creio que o amor é a maior coisa do mundo; que só ele pode vencer o ódio; que o direito pode triunfar sobre a força bruta e que triunfará”.

Rockefeller Junior (foto acima) foi um filantropo ensanduichado entre membros ilustres de sua família: o pai imortalizou-se como o barão do petróleo que iniciou a fortuna do clã; seu filho, Nelson (Rocky, para os íntimos), foi governador de Nova York e vice-presidente dos Estados Unidos (gestão Gerald Ford). Durante sua vida, doou mais de US$ 500 milhões que, em dinheiro de hoje, superaria fácil a casa do bilhão.

Lembrado como um dos pioneiros a criar uma fundação parar gerir doações e apoiar causas sociais, igualmente financiou várias pesquisas médicas na cidade onde morou durante a maior parte de sua vida. Também foi ele que comprou e doou o terreno às margens do East River que seria utilizado em 1946 para a construção da sede da Organização das Nações Unidas (cujo prédio foi projetado pelo arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer).

As palavras de Rockefeller Junior gravadas em mármore verde mostram uma crença profunda na filosofia liberal, especialmente quando reforça que “o mundo não deve ao homem algum recurso para viver, mas que deve a todos uma oportunidade para ganhar a vida”. Mas há uma ética presente no discurso, de causa e efeito: “Creio na dignidade do trabalho, feito com a cabeça ou com as mãos”. Por fim, a busca pelo sentido da vida: “todo direito implica uma responsabilidade, toda oportunidade uma obrigação, toda propriedade um dever”.

O construtor do Rockefeller Center via a nobreza no caráter humano e o considerava um “valor supremo” E, com poesia, enxergava que as impurezas do egoísmo deveriam ser queimadas em um fogueira sacrificadora para libertar a grandeza da alma humana. Quando olhamos a mesquinhez de vários que estão ao nosso redor, percebemos mais facilmente a magnanimidade deste bilionário que colocava a sociedade acima de tudo e dedicava-se como poucos ao bem comum – ao contrário do que acontece no mundo atual, que funciona na base do “cada um por si e Deus por todos”.

Se tivéssemos mais exemplos como John Rockefeller Junior, o planeta seria mais justo. E desfrutaríamos de algo muito raro: observar alguém com sabedoria e inteligência quase que infinitos, tão abundantes como os dólares que se amontoavam em sua conta bancária.

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