Quem leu o tal do manifesto que teria motivado a saída do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal da Febraban ficou sem entender nada. Trata-se de um texto morno, ao melhor estilo café com leite e adoçante, que apenas atenta para algo óbvio e desejável: a repulsa à tensão existente entre os três poderes da República. Em nenhum momento o manifesto coloca a culpa deste conflito no presidente Jair Bolsonaro ou no governo federal. E pede somente que as autoridades públicas busquem o entendimento.
Alguma coisa errada ou desrespeitosa nisso?
Confira a íntegra da mensagem, que foi vazada no início da tarde de hoje (30):
“A praça é dos três poderes
A praça dos três poderes encarna a representação arquitetônica da independência e harmonia entre o Legislativo, o Executivo e o Judiciário, essência da República. Esse espaço foi construído formando um triângulo equilátero, cujos vértices são os edifícios-sede de cada um dos poderes.
Esta disposição deixa claro que nenhum dos prédios é superior em importância, nenhum invade o limite dos outros, um não pode prescindir dos demais. Em resumo, a harmonia tem de ser a regra entre eles.
Este princípio está presente de forma clara na Constituição Federal, pilar do ordenamento jurídico do país. Diante disso, é primordial que todos os ocupantes de cargos relevantes da República sigam o que a Constituição nos impõe.
As entidades da sociedade civil que assinam este manifesto veem com grande preocupação a escalada de tensões e hostilidades entre as autoridades públicas. O momento exige de todos serenidade, diálogo, pacificação política, estabilidade institucional e, sobretudo, foco em ações e medidas urgentes e necessárias para que o Brasil supere a pandemia, volte a crescer, a gerar empregos e assim possa reduzir as carências sociais que atingem amplos segmentos da população”.
Como na peça de Shakespeare (foto), pode-se dizer que foi muito barulho por nada.
Então, qual é a razão de BB e Caixa deixarem a Febraban? Aparentemente, nenhuma.
Trata-se de situação que mostra claramente como o comportamento do presidente Bolsonaro contamina seus auxiliares mais próximos. Essas autoridades entram no governo de um jeito e, aos poucos, vão vivendo sob a temperatura máxima dos conflitos permanentes. Resultado: depois de um tempo, se tornam tão beligerantes e intolerantes como o chefe.
Este parece ser o caso: os dirigentes das instituições estatais ouviram o galo cantar sem saber onde e tomaram uma decisão precipitada, a de deixar o órgão máximo de representação dos bancos. Levaram a ideia a Paulo Guedes e a Bolsonaro, que aprovaram a sugestão.
Vamos dizer que houve uma versão anterior do manifesto, com uma redação mais agressiva (algo difícil, já que o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, estava coordenando a publicação do texto). Neste caso, o que poderia ser feito? Uma conversa para se negociar, compor ou conciliar. Mas estes verbos, aparentemente, não existem no léxico cotidiano do Planalto.