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Duas ou três coisas que sei sobre o politicamente correto

Já disse uma vez e repito: o politicamente correto veio para ficar. Portanto, é bom se acostumar com seus conceitos, barreiras e limites. Outro dia, participei de um debate sobre o tema e dei a seguinte contribuição: daqui para frente, comporte-se sempre como se estivesse sendo gravado e filmado. Isso vai tirar sua espontaneidade? Seguramente. Vai tornar sua vida mais chata? Com toda certeza. Vai requerer que você se policie o tempo todo? Definitivamente.

Minha mente já atua desta forma há alguns meses, até porque fiz cerca de 300 “lives” desde que a pandemia começou. Ao escrever ou falar com o público várias vezes durante a semana, o cérebro começa a atuar automaticamente voltado para uma audiência maior e, neste processo, começa a excluir termos que podem ser considerados agressivos ou preconceituosos.

Neste evento virtual do qual participei, durante o qual tive a oportunidade de rever vários colegas de faculdade, aprendi mais uma palavra que entrou no índex dos termos proibidos. Como faz parte de meu dia a dia profissional, prevejo grandes dificuldades em bani-la de meu vocabulário. Trata-se de “seminário”. Por que? A origem do termino é o latim “seminarium”, que deriva se “semen” ou “seminis”. Portanto, aos olhos da galera PC, a palavra que define os eventos nos quais temos palestras teria uma origem masculina, por conta do termo “semen”. Neste universo politicamente correto, há quem chame esses workshops de “ovulários” para dar um tom, digamos, feminista a esses eventos.

Um exagero? Sim. Especialmente se levarmos em conta que “semen”, em latim, não necessariamente está ligado ao líquido decorrente da ejaculação e sim tem como principal significado a palavra “semente”. E que a palavra “seminarium” foi usada, em seus primórdios, para definir os viveiros de plantas. Daí surgiu o sentido de germinar ideias, ganhando o mundo para definir um conjunto de palestras.

Mais exemplos de agitação inútil a respeito de termos utilizados de forma inocente?

Um grande amigo assumiu o cargo de CEO de uma empresa que fatura cerca de R$ 6 bilhões um pouco antes da pandemia. Esta companhia é regida por normas severas de compliance e governança e tem uma grande estrutura para apurar denúncias a respeito do comportamento de seus executivos.

Este CEO foi surpreendido, na semana passada, por uma convocação de seu departamento de Recursos Humanos em conjunto com o de compliance. Houve uma denúncia em relação a seu comportamento e ele precisava ser questionado. O meu amigo, com grande experiência na gestão de empresas e com vários prêmios em sua carreira, estranhou o chamado, mas foi conversar com os responsáveis pela diligência.

Havia uma acusação contra ele. O motivo? Gordofobia.

Tudo porque ele disse em uma reunião de trabalho: “Chama aquele gordinho que sabe tudo esse assunto”. Ele, que ainda não conhece o nome de todos que compõem o segundo escalão da companhia, usou uma característica (verdadeira) para se referir a uma pessoa cuja capacidade profissional foi elogiada em público.

Mas a tal denúncia ficou em cima do termo “gordinho”. Detalhe: sou amigo deste CEO há exatos 17 anos. Desde que o conheço, ele luta contra a balança. Como ele poderia ser um “gordofóbico”?

O processo de caça às bruxas é típico do início de um ciclo. E estamos passando justamente por isso. Interpretações exageradas ou injustas vão ocorrer. Mas, como dizem os americanos, este trem já deixou a estação. Trata-se de um conceito que vai ganhar rapidamente a maioria das empresas. Isso vai criar uma geração mimimi? Pode ser. Teremos ganhos em alguns quesitos e perdas em outros.

Será um mundo diferente daquele que estávamos acostumados até algum tempo atrás. Mas, como em toda a dinâmica que está em seus primórdios, há inúmeras oportunidades de negócios neste mundo, especialmente para aqueles que precisam se adaptar aos novos tempos.

É difícil entrar nos novos trilhos de comportamento? Sem dúvida. Mas, como dizia o escritor George Bernard Shaw, “aqueles que não conseguem mudar suas mentes não conseguem transformar nada”. Portanto, para aqueles que olham com desdém o novo cenário corporativo, uma observação: pense em tudo o que você conseguiu transformar desde o início de sua carreira, desde departamentos, atitudes e projetos. Não foi um número pequeno de mudanças, certo? Diante dessas conquistas, entender a lógica do universo politicamente correto, será um dos objetivos mais fáceis de sua carreira. É só tirar a má vontade da frente. 

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