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A tecnologia e sua “destruição criativa” são pró-trabalhador

Os temores em relação à inteligência artificial, à automação e aos robôs estão por todos os lados.

Um dos redutos favoritos é a Amazon.com, onde vários livros — como Os robôs e o futuro do emprego, de Martin Ford — preveem o fim do trabalho. Tais livros seguem um caminho já bem conhecido. Vinte e dois anos atrás, Jeremy Rifkin escreveu The End of Work. Por ironia, quase que imediatamente, o mundo entrou em um dos maiores períodos de criação de emprego na história.

O fim do trabalho é algo que jamais temos de temer. E por uma questão de lógica: a necessidade de trabalhar e produzir bens e serviços só se esgotará quando não houver absolutamente mais nada que queremos e desejamos.

Trabalhos são apenas coisas que fazemos

Trabalhos são apenas tarefas que realizamos com o objetivo de produzir e obter as coisas que desejamos.

Nós nunca acabaremos com nossos desejos de consumidor, não importa quantos robôs ou outras tecnologias criemos.

Quando as tecnologias se encarregam de saciar algumas de nossas necessidades, isso significa que elas estão nos liberando do ônus de ter de trabalhar para produzir aquilo. Consequentemente, elas estão nos dando a oportunidade de irmos buscar outras atividades que nos dão mais prazer e satisfação — uma oportunidade que deveríamos agarrar com avidez.

Grande parte da angústia em relação à tecnologia parece ser em relação à expectativa de vida dos empregos que existem atualmente. Mas eis o fato: o objetivo jamais deve ser o de preservar os empregos que existem hoje. Não foi assim que a humanidade evoluiu, prosperou e enriqueceu. Nós não evoluímos protegendo empregos obsoletos e maçantes, mas sim acabando com eles e, em seu lugar, criando novos empregos mais modernos, em linha com as demandas dos consumidores.

Assim, o objetivo de uma sociedade que quer prosperar e enriquecer tem de ser o de criar os trabalhos que serão realmente necessários no futuro.

São inúmeras as pessoas que parecem querer, de alguma forma, combinar empregos dos anos 1950 com um estilo de vida do século XXI. Mas a razão pela qual desfrutamos do padrão de vida que usufruímos hoje é porque efetuamos os trabalhos de hoje, e não aqueles da década de 1950. Para ser mais preciso, realizamos os trabalhos que fazemos hoje para produzir os bens e serviços que queremos e desejamos hoje, e não aqueles que desejávamos no passado.

Eis uma realidade que muitos se recusam a aceitar: a maneira como as pessoas ganham dinheiro depende diretamente da maneira como elas gastam dinheiro. Não adianta você querer ganhar dinheiro fabricando máquinas de escrever se as pessoas querem gastar dinheiro comprando computadores.

Por isso, à medida que progredimos, iremos continuar renunciando a alguns empregos e criando outros, adaptando nosso trabalho (a maneira como ganhamos a vida) a como queremos viver e ao que as tecnologias podem fazer por nós.

Na década de 1860, mais da metade das pessoas ainda trabalhava no campo. Desde então, a mecanização da colheita, a criação do milho híbrido, a automação do processo de produção de ovos e outras tecnologias para reforçar a produtividade agrícola eliminaram os empregos de muitas pessoas. Mas essa mecanização da agricultura não eliminou a lista — em constante expansão — de tudo aquilo que as pessoas desejem além de alimentos. Nem de longe.

Hoje, apenas 2% da população vive no campo. No século XVIII, ninguém acreditava que isso seria possível. E não apenas esses 98% não estão morrendo de fome, como estão prosperando — levando vidas melhores, trabalhando em empregos mais confortáveis e, em alguns casos, até mesmo lutando contra a obesidade por causa do excesso de comida disponível.

Ao liberar mão-de-obra, as tecnologias agrícolas nos deram a oportunidade de nos concentrarmos em satisfazer outras necessidades. Ao mesmo tempo em que ainda existiam dezenas de milhões de agricultores, havia apenas dezenas de milhares de médicos. Hoje, há mais de 10 vezes mais; centenas de milhares de médicos. Não seria possível haver esse tanto de médicos se as pessoas ainda estivessem amarradas ao trabalho no campo, tendo de trabalhar manualmente para produzir a comida de que necessitam para viver.

Abolindo trabalho e criando empregos

Quando as tecnologias eliminam alguns trabalhos, é como se estivéssemos riscando alguns itens da nossa lista de tarefas. Quando fazemos isso, não nos acomodamos e ficamos ociosos, sem fazer nada; partirmos em busca de outras atividades que irão produzir outros bens e serviços que ainda estamos demandando.

Quando as tecnologias eliminam algumas tarefas, isso nos dá a oportunidade de ampliarmos nossos horizontes. Por exemplo, em 1900, nos EUA, cerca de uma em cada vinte pessoas na força de trabalho era empregada por uma ferrovia. A invenção do automóvel e do avião liberou muita dessa mão-de-obra – e, consequentemente, liberou o mundo para ir buscar novos desejos e necessidades. Hoje, quase um em cada vinte americanos é um engenheiro ou cientista, de acordo com o Congressional Research Service.

Se 5% da força de trabalho — cerca de oito milhões de pessoas hoje — ainda fossem empregadas pelas ferrovias (como eram em 1900), talvez não houvesse pessoas suficientes para produzir todos os avanços tecnológicos que a engenharia e a ciência geram.

Quando as tecnologias eliminam empregos, elas geralmente criam outros novos. Nos tempos mais recentes, vimos novas tecnologias visível e rapidamente remodelando o mercado de trabalho. Por causa da internet, não precisamos mais de tantos agentes de viagens, funcionários de livrarias e de lojas. Em vez disso, precisamos de desenvolvedores de aplicativos e de sites online.

Devido ao streaming de vídeo e aos canais de filmes digitais, não precisamos mais de dezenas de milhares de funcionários de locadoras. Consequentemente, temos mais pessoas disponíveis para realizar serviços de cuidados pessoais, fornecer suporte técnico por telefone e trabalhar em centros de atendimento a clientes de empresas online.

Quando as tecnologias eliminam empregos em um lugar, elas geralmente os geram em outros lugares. Os caixas eletrônicos diminuíram a necessidade de caixas bancários nas agências. E aí, dado que menos pessoas são necessárias na equipe de uma agência, os bancos podem abrir mais agências em áreas menos populosas.

Regozije-se

Desde o início do capitalismo moderno, estamos constantemente envolvidos em um processo de substituição de uma tecnologia por outra. Mas não olhamos para o passado com tristeza e saudade dos empregos que perdemos — tais como limpadores de chaminés, entregadores de leite e cortadores (e entregadores) de gelo.

Em vez disso, já aceitamos como naturais as conveniências de que desfrutamos. E é por causa delas que temos hoje os nossos empregos.

Querer que a mecanização, a automação e a robótica sejam bloqueadas e que toda a economia seja engessada e impedida de progredir simplesmente porque “as pessoas perderão seus empregos” é um recurso meramente emocional, sem qualquer base na lógica. Nenhuma economia rica se desenvolveu “protegendo empregos”, pois a destruição de empregos obsoletos representa o próprio sinal do progresso.

Há vários empregos que existem hoje e que nem sequer eram imaginados há 10 anos. E vários empregos que existiam há 10 anos não mais existem hoje. E a maioria dos empregos que existirá no futuro ainda não existe hoje. Querer frear esse progresso em nome da proteção de alguns empregos é uma atitude que, caso tivesse sido seguida lá atrás, faria com que ainda hoje estivéssemos vivendo no campo e com uma enxada na mão. 

(Allan Gollombek)

Artigo original: 
https://www.mises.org.br/Article.aspx?id=3073

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