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A inflação, o próximo perrengue do governo

Hoje, começa a reunião do Comitê de Política Monetária que vai definir a nova taxa da Selic. Esta é uma das reuniões mais importantes dos últimos tempos. Desse encontro sairá uma decisão que terá grande impacto no mercado e sinalizará definitivamente se haverá uma abordagem técnica ou política sobre a economia brasileira.

A inflação deu mostras inequívocas de crescimento nos últimos tempos. Em fevereiro, tivemos um IPCA de 0,86%, enquanto as estimativas de mercado eram de 0,72%. Em doze meses, isso significa 5,20 % — quase os 5,25 % que são o topo da meta do Banco Central.

A não ser que o governo queira viver na prática a famosa patacoada dita pela ex-presidente Dilma Rousseff (“Nós não vamos colocar uma meta. Nós vamos deixar uma meta aberta. Quando a gente atingir a meta, nós dobramos a meta.”), é preciso tomar alguma providência e domar o dragão, que começa a abrir suas asas.

No caso do IGP-M, que além da alta dos preços ao consumidor também captura a variação do atacado e do custo da construção civil, o índice explodiu há muito tempo. Em 2020, por exemplo, tivemos um IPCA de 4,52% (uma variação ínfima em relação aos 4,31% registrados em 2019). Já o IGP-M fechou o ano passado com uma expansão de 23,14 %, comparado com 7,30 % de 2019.

Com a prévia do resultado de março (1,95 %), esse indicador acumula alta de 7,21% apenas em 2021. E nos últimos doze meses? O IGP-M está beliscando os 30 %: a elevação acumulada é de 29,83%. Por enquanto, o índice não produziu efeitos devastadores pois o cenário econômico advindo da pandemia não permite grandes repasses em contratos de educação, aluguel e energia elétrica (cujos reajustes são regidos pelo IGP-M).

Mas a inflação do dia a dia começa a se descolar do IPCA e vai corroendo o poder aquisitivo da população brasileira. Qualquer um que vá ao supermercado consegue perceber que a mesma compra custa mais caro mês após mês.

O que fazer diante deste cenário?

A abordagem técnica e clássica, nesses momentos, é elevar a taxa de juros. Mesmo assim, se essa elevação for muito tímida, a alta de preços continua (o oposto também é verdadeiro: se os juros sobem além da conta, cria-se uma recessão desnecessária). Portanto, o Copom tem diante de si uma tarefa árdua: precisa elevar os juros, mas não pode pesar a mão. E se essa mão for leve demais, os efeitos serão inócuos.

Muitos economistas são taxativos em dizer que a taxa atual de 2 % é inviável. E que o BC deve elevar urgentemente esse patamar. Será uma prova de fogo para vermos se a tão propagada autonomia do Banco Central funcionará para valer. Na cerimônia em que o presidente Jair Bolsonaro sancionou o projeto que tornou o BC autônomo, o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, disse: “A evidência empírica mostra que países que têm Banco Central mais autônomo, têm inflação mais baixa. Não só têm inflação mais baixa, como tem uma menor variável da inflação, a inflação varia menos”. Essas palavras serão colocadas à prova a partir de hoje.

Por enquanto, as atenções da sociedade ainda estão centradas na pandemia. Mas já se percebe uma insatisfação crescente em relação à alta de preços. Com a vacinação em curso, apesar da dificuldades, é natural que os cidadãos voltem a se preocupar com aquilo que o ex-ministro Delfim Netto chamava de “a parte mais sensível do corpo humano”: o bolso.

O primeiro movimento do Copom não deve ser muito forte. Especialistas esperam uma alta de 0,5 % na Selic. Ainda que a decisão fosse mais agressiva, os preços estão embalados e vão demorar a se estabilizar. Por isso, é de se esperar que o próximo perrengue do governo será a inflação – acompanhada ou não da pandemia.

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