Diante de uma queda de aprovação consistente e perene, o governo partiu para o tudo ou nada e adotou uma linha de comunicação que alinhou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Os dois passaram a dar declarações de cunho semelhante, reforçando que o caráter “Robin Hood” do governo: tirar dos ricos para dar aos pobres.
Há alguns dias, Lula disse: “Vocês sabem quantos bilhões a gente dá de isenção para os ricos desse país que não pagam impostos?”. Neste final de semana, Haddad postou o seguinte nas redes sociais: “Quem cobra imposto de bets e bilionários somos nós. Quem está isentando o trabalhador do imposto de renda somos nós”.
Bem, em primeiro lugar, o ministro não quer taxar apenas os bilionários, mas principalmente a classe média para financiar a isenção de quem ganha até R$ 5.000,00 mensais. Quem ganha mais de R$ 50.000,00 ao mês receberá uma taxa adicional de 10% sobre seus vencimentos. Esse é o salário de um gerente de uma grande corporação. Não se pode comparar um profissional destes com, por exemplo, Jorge Paulo Lemann, que possui uma fortuna estimada em US$ 18,4 bilhões.
Além disso, há impostos camuflados em nossa economia que atingem a todos, sem exceção – e estão embutidos nos preços dos produtos que pagamos. Tomemos uma declaração dada pelo ex-presidente americano Ronald Reagan ao apresentador Johnny Carson em 1975: “Quando você e eu éramos garotos, os governos federal, estadual e municipal só tomavam 15 centavos de cada dólar que ganhávamos. Hoje, eles tomam quase metade de cada dólar ganho. A maioria das pessoas não percebe isso, porque as taxas estão escondidas nos impostos cobrados das empresas. Você sabe, o político se levanta e grita, ‘oh, vamos salvar o pequeno, vamos taxar os negócios’. E todos gritam, ‘hurra’. Mas eles não descobriram que cada taxa de negócio é só uma parte do custo da produção. E o cliente acaba pagando quando ele compra o produto. É uma taxa de vendas escondida”.
É assim que funciona o capitalismo, ministro. Todo o imposto que for direcionado às empresas – das casas eletrônicas de apostas às gigantes de tecnologia – vai gerar uma elevação nos custos e isso será compensado pelo aumento de preços ao consumidor, a não ser que o governo resolva definir a margem de lucro da inciativa privada.
Voltando a Reagan. Em um discurso, ele citou Abraham Lincoln e disse: “Você não pode fortalecer o fraco ao enfraquecer o forte; você não consegue ajudar o trabalhador prejudicando o empresário; você não pode ajudar os pobres destruindo os ricos”.
Há uma forma muito simples de ajudar trabalhadores e desempregados: destravar a economia, melhorando o ambiente de negócios e dando condições para os empresários contratarem mais e abrirem mais empresas. Isso vai gerar mais vagas e elevar salários.
O governo reclama que distribui isenções de impostos aos empresários. Deveria – isso sim – reduzir permanentemente os tributos cobrados às empresas. Ao contrário do que pensam Lula e Haddad, essas isenções não vão integralmente para o bolso dos empresários e sim são utilizadas para manter as companhias sobrevivendo – especialmente aquelas que operam com margens baixas. Portanto, o mundo ideal seria aquele em que não houvesse isenções e sim apenas impostos baixos, que multiplicariam a riqueza produzida pelo país.