Desde o início da pandemia, ouve-se falar sobre o tal colapso do sistema de saúde. Ninguém entendia direito o que essas palavras poderiam significar – até o dia de hoje (15). As imagens que vêm de Manaus são assustadoras, dada a falta de oxigênio nos hospitais da cidade. O caos reina no município é o conjunto de incompetências em várias esferas de poder (municipal, estadual e federal) e terá sérios impactos sérios no panorama político do país.
A troca de acusações e de insultos entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador João Doria mostra que um cenário de terror como o da capital amazonense pode servir de matéria prima para embalar interesses eleitorais. Nessa briga entre Bolsonaro e Doria, é possível reagir de duas formas. A primeira é achar que os dois lados têm razão no que falam um do outro. A segunda é, entre os dois antagonistas, ficar do lado da briga. Os dois personagens dessa discórdia erram em aproveitar uma tragédia dessa proporção para ganhar manchetes.
Enquanto se gastar energia nessa bazófia, os dois políticos mais importantes do país vão se apequenando enquanto um enorme contingente de brasileiros, não só amazonenses, sofrem os efeitos da pandemia. Um dos dois deveria ser o que os americanos chamam de “bigger man” e estender a mão ao adversário. Mas a chance de isso acontecer é mínima, pois vemos aqui dois homens públicos que enxergam na pandemia uma forma de inflar seus nomes no pleito de 2022.
É exasperante ver, de um lado, um presidente que minimiza a epidemia de coronavírus e parece estar sempre questionando o que dizem os sanitaristas, fomentando teorias da conspiração e jogando para sua claque. De outro, temos o desprazer de ver um governador que age de forma marqueteira, sumindo do mapa quando se divulga os resultados da CoronaVac, que ficaram aquém do esperado (embora dentro dos limites impostos da Anvisa e, portanto, utilizável).
Sobre o índice de eficácia da vacina chinesa, por sinal, vale a pena uma reflexão a partir de um meme que circula na internet (aquele em que há a foto de um paraquedista e uma pergunta: você usaria um paraquedas com eficácia de 50,38 %?). Em situações normais, ninguém se arriscaria dessa forma. Mas, imagine-se em um avião em queda livre e a única opção disponível é o paraquedas 50,38%.
O que você faria? Ficaria sentado, esperando o choque junto ao chão, porque há uma chance entre duas de o paraquedas não abrir?