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Em plena pandemia, é possível ser ambicioso?

Os dicionários definem a palavra “ambição” de duas maneiras.

Uma delas é no sentido ligado à busca da riqueza. Fazem parte deste grupo sinônimos como ganância, cobiça, concupiscência, avidez, cupidez, fome, interesse ou sede. A outra forma é relativa à aspiração de alcançar um objetivo. Neste caso, os significados são anseio, ânsia, desejo, intenção, intento, pretensão ou sofreguidão.

A ambição é um fenômeno estudado por economistas, filósofos, historiadores, psiquiatras, sociólogos e antropólogos. E alvo da atenção de escritores, poetas, músicos e cineastas. Uma passagem de um filme de 1987, Wall Street, define bem o esse comportamento. No filme, Gordon Gekko, o personagem vivido por Michael Douglas (foto), usa uma palavra cujo sentido está mais para “ganância” do que para “ambição” (“greed”). Mas o sentido geral pode ser aplicado aqui. “A ganância, na ausência de uma palavra melhor, é boa. Captura a essência do espírito da evolução em todas as suas formas: a ganância pela vida, por dinheiro e por conhecimento. É o que marca a onda de crescimento da humanidade”, diz Gekko a uma plateia de investidores.

Antes de mais nada, este é um personagem polêmico, que faz de tudo para ganhar dinheiro, inclusive buscar informações privilegiadas e agir contra a lei. É dele uma frase que define bem o caráter de pessoas que só pensam em bens materiais. “Você quer um amigo?”, questiona ele a outro personagem. “Então, compre um cachorro”.

Mas, no fundo, troque-se a palavra “ganância” por “ambição” e teremos uma boa definição de como caminha a raça humana. Pois, como bem pontua Gekko, a ambição não precisa ser exatamente em relação a uma gorda conta bancária. Pode estar relacionada a criar realizações, a deixar legados ou simplesmente à vaidade do ser humano.

Depois desta introdução enorme, chego à pergunta de um milhão de dólares: em meio à pandemia, quando todos estão procurando sobreviver, é possível ter ambição?

É claro que sim.

Não vamos confundir o presente com o futuro. Esse é um engano que cometemos quando estamos passando por fases difíceis, que parecem não terminar nunca. Uma canção de Caetano Veloso e Gilberto Gil, “Desde que o Samba é Samba”, captura bem esse sentimento: “Solidão apavora/Tudo demorando em ser tão ruim”. Estamos exatamente neste momento, aquele em que a adversidade parece ser eterna – afinal, passamos pela décima semana de isolamento, sem perspectivas de enxergar o que será de nós em termos sanitários e econômicos. Por pior que seja nossa situação atual, entretanto, ela não vai durar para sempre. Ou uma solução médica será encontrada ou passaremos pelo duro processo de imunização do rebanho, como ocorreu na Gripe Espanhola de 1918.

Falando nisso, quem teria coragem de criar uma empresa em plena pandemia de influenza? Quem teria a ambição de construir um negócio do zero em meio à paralisia econômica provocada pelo vírus, exatamente como ocorre agora? Pois saibam que naquele longínquo Brasil de 1918, dois gigantes nacionais foram fundados: a Dicico e a Votorantim. No ano seguinte, a Mococa. Lá fora, um ano depois do início da Gripe Espanhola, grandes corporações saíram do papel: RCA, Electrolux, Citroën e Danone são alguns dos exemplos.

Esses empreendedores reprimiram suas ambições? Não. Foram cautelosos? Com certeza.

Este é o momento em que a maioria das pessoas está preocupada com o próprio umbigo, com a própria existência. Executivos estão aflitos não com uma promoção, mas sim com outra prioridade – manter seu emprego. Empresários, pequenos e médios empreendedores inclusos, estão na batalha para manter seus negócios funcionando, apesar de tudo. Como é que essas pessoas vão pensar em ser ambiciosas numa hora tão grave?

O problema é que, neste exato momento, há executivos e empresários com a luz da ambição acesa. Seu brilho não é tão forte, mas ela está lá. Esperando por uma oportunidade para aumentar sua intensidade. Um pequeno grupo, é verdade. Mas a postos para tomar o seu lugar.

A ambição, em alguns casos, é uma avidez que sustenta a capacidade de ficar em pé e não desistir. Nestas situações, a resiliência é algo que pode materializar a ambição de crescer. Veja o que ocorreu com a Randon, fabricante de carretas e vagões. Seu caso foi lembrado por Henrique Breda, gestor do fundo Alaska, num dos recentes debates virtuais realizados por MONEY REPORT. Na crise de 2008, a Randon resistiu firme às intempéries. No ano seguinte, cerca de 30 concorrentes fecharam as portas – e sua fatia de mercado aumentou de forma exponencial. A ambição de seus controladores foi satisfeita, embora às custas da quebra dos competidores.

O fato é que o day after da pandemia precisa ser estudado com afinco. Discutido, checado, rechecado e debatido. O que acontece depois da pandemia precisa virar uma obsessão para todos que estão envolvidos na produção de riquezas. Por qual razão? A resposta é simples: quem se preparar melhor sairá na frente. Quem tiver ambição – não necessariamente de dinheiro, é importante ressaltar – estará na pole position. Por isso, é hora de fritar o peixe e olhar o gato ao mesmo tempo, ainda que isso custe um esforço sobre-humano. É preciso fazer de tudo para manter sua empresa girando, apesar das dificuldades, sempre com um dos olhos no futuro, tentando decifrar um único enigma: o que vai acontecer no meu mercado quando o isolamento acabar? A resposta a essa questão deveria ser a nossa prioridade número um – porque enquanto você está lendo esse artigo, algum concorrente seu já está pensando sobre o que fazer quando o coronavírus se tornar uma página virada.

Não subestime a sede pelo sucesso. Ela completa as aspirações que todos guardam dentro de si. Tem o poder de nos manter acesos e alertas. Faz o dia ficar curto e o cansaço desaparecer. É a maior motivação que um ser humano pode possuir. Ainda assim, é criticada e tratada como uma iniquidade mortal (embora não esteja listada entre os sete pecados capitais, como a avareza e a soberba – características que alguns ambiciosos cultivam). Não adianta se escorar apenas na própria capacidade e achar que o universo conspirará em seu favor. É como muitos criadores de startups (evidentemente, nem todos) que não se preocupam com suas vendas, achando que a rede, milagrosamente, vai se encarregar de descarregar seus estoques de produtos ou serviços. Sem a mãozinha da cobiça, porém, as coisas vão andar devagar. É como dizia Salvador Dali: “A inteligência sem ambição é como um pássaro sem asas – não vai voar nunca”.

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