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“Guerra de preços é fatal para editoras”, diz fundador da Todavia

O ano de 2018 foi de altos e baixos para a editora Todavia. Ao mesmo tempo em que seus livros estiveram entre os mais vendidos do país, a empresa sofreu prejuízos ao entrar na lista de credores da recuperação judicial das livrarias Cultura e Saraiva. Fundada em 2017 – no auge da crise do setor – por um grupo de ex-editores da Companhia das Letras, a Todavia conseguiu cumprir a meta de lançar 50 títulos em um ano, algo bastante desafiador em um mercado com inúmeros dificuldades. Na entrevista a seguir, Marcelo Levy, sócio e atual diretor comercial da editora, fala sobre o primeiro ano de vida da Todavia, analisa a dura concorrência do setor e lamenta os baixos índices de leitura do Brasil. “A pouca leitura é um entrave para o desenvolvimento e processo de civilização do país”, diz.

Como foi o ano de 2018 para a Todavia? 

Levando em conta que a Todavia é uma editora nova, foi um ano muito bom, extraordinário. Havíamos planejado lançar 50 títulos e conseguimos alcançar esse objetivo. Alguns títulos foram reimpressos. Outros entraram na lista dos mais vendidos. 

A recuperação judicial das livrarias Saraiva e Cultura afetou os resultados da empresa?

Afetou bastante. Essas livrarias são locais de grande exposição, pela fatia de mercado que elas representam. Então prejudicou a nossa capacidade de distribuição, impondo dificuldades para fazer o livro chegar até o leitor. Sem contar que entramos na lista de credores da recuperação judicial dessas companhias. Apesar disso, temos a meta de lançar 50 títulos por ano, procurando driblar adversidades. 

Como? 

Nossas vendas em livrarias menores e independentes compensaram, pelo menos parcialmente, a perda de faturamento. Essas livrarias têm acervos interessantes, programações de eventos para atrair leitores. Não são tantas como gostaríamos, mas absorvem uma parte da demanda que antes era atendida pelas livrarias das redes Cultura e Saraiva. 

É viável vender livros pelas redes sociais? 

Sim. As redes sociais têm um papel importante em nossas vendas. Por meio delas, nós conseguimos informar os leitores, deixá-los a par de nossos lançamentos. Mas, ao mesmo tempo, as redes sociais impõem desafios. Por exemplo: como o consumo de livros vai se materializar? O leitor que vê um livro nosso no Instagram vai comprá-lo no nosso site ou em alguma livraria física? São desafios que estão colocados e que estamos debatendo.

Por que os livros da Todavia não têm descontos atrativos no site da Amazon?

Isso você tem que perguntar para a Amazon (risos). Não sei se essa sua percepção se sustenta. Penso que isso acontece com outras editoras também, não é algo exclusivo da Todavia. Na minha opinião, o melhor para o mercado é ter uma política de preços que seja saudável para todos. Guerra e degradação de preços têm efeito fatal para editoras e o mercado livreiro. 

Mas o consumidor procura comprar livros em locais com preços mais atrativos, não é? 

Concordo. Para o consumidor é uma vantagem. Mas, no fim das contas, isso é danoso para o leitor. Guerras de preços asfixiam setores varejistas. Uma livraria pequena, que não consegue competir com grandes redes, por exemplo, acaba fechando. Percebe que a comunidade como um todo acaba perdendo? 

Como estão as vendas dos livros digitais da Todavia? 

Estão estáveis. Não têm crescido, mas também não diminuíram. Todos os livros da Todavia têm versões em e-book. Estamos satisfeitos com as vendas de livros digitais. 

Uma pesquisa divulgada em 2016 mostrou que 44% da população brasileira não lê. Como é ter uma editora em um país que lê pouco, como o Brasil?

O baixo nível de leitura no país é um obstáculo para nós, sem dúvida. A leitura não é um passatempo do brasileiro. Mas o entrave maior é de outra natureza. A pouca leitura é um entrave para o desenvolvimento e processo de civilização do país, que poderia ser melhor com mais leitores. Mas seguimos firmes, pois acreditamos no valor social do livro. O livro estará aí por muito tempo. 

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