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Um governo inchado é o maior motor da inflação

Os EUA viveram seu maior período de crescimento na Revolução Industrial, sem que o governo interferisse ou ficasse com parte dos lucros. Isso pode acontecer novamente

Em 2020, os governos dos estados forçaram muitas empresas a fecharem temporariamente suas portas sob o pretexto de “15 dias para conter a propagação” do vírus da Covid-19. Esses 15 dias se transformaram em meses e, no estado progressista da Califórnia, duraram mais de um ano. Sabendo que cortar a capacidade das pessoas de trabalhar e gerar renda teria consequências econômicas desastrosas, o governo passou a compensá-las, direta e indiretamente, para que ficassem em casa. Isso provocou uma queda na produtividade de bens e serviços, enquanto o tempo livre recém-adquirido e o dinheiro vindo do Tesouro aumentaram a demanda sobre a quantidade limitada de estoques disponíveis durante a pandemia. Como resultado, a inflação disparou, causando um aumento generalizado nos preços.

A resposta à Covid-19 não é a única responsável pelo recente surto inflacionário, embora tenha exposto o problema ao público como uma questão séria pela primeira vez em décadas. Na verdade, trata-se de um sintoma de uma doença mais profunda: um governo que absorve recursos limitados enquanto imprime dinheiro do nada para cobrir seus déficits, o que, por sua vez, eleva os preços por meio da inflação. O aumento dos gastos durante a administração Biden só agravou ainda mais esse problema. Os gastos descontrolados de um governo inchado retiram recursos dos cidadãos por meio de impostos, expandem a oferta monetária e representam o maior motor da inflação no século XXI.

Gastos federais massivos

No ano fiscal de 2024, o déficit orçamentário do governo federal foi de US$ 1,83 trilhão. O orçamento total para aquele ano foi de US$ 6,9 trilhões, o que significa que o governo arrecadou mais de US$ 5 trilhões em impostos e outras fontes de receita. O Produto Interno Bruto (PIB) total dos Estados Unidos em 2024 foi de pouco mais de US$ 29 trilhões. Por essa métrica, um pouco mais de um a cada seis dólares gerados na economia foi enviado a Washington na forma de impostos, sendo que o gasto total do governo federal, tanto com recursos próprios quanto com dinheiro tomado por empréstimo, representou quase um quarto de todo o PIB do país.

Em 2023, o governo gastou US$ 6,1 trilhões naquele ano fiscal. Isso representa um aumento de 12,83% nos gastos de um ano para o outro. Já o PIB de toda a economia dos Estados Unidos cresceu apenas 2,8%. O governo está drenando recursos a uma taxa insustentável, considerando o crescimento acelerado dos gastos públicos e o aumento contínuo dos déficits orçamentários ano após ano.

Quantitative easing

Durante a crise financeira, o Federal Reserve adotou a política de afrouxamento quantitativo (conhecida como quantitative easing), que consiste na compra de ativos financeiros pelo banco central com o objetivo de estimular a economia. De acordo com a teoria econômica keynesiana, uma recessão pode ser superada com o aumento dos gastos públicos, sob a premissa de que os beneficiários desse dinheiro terão mais recursos para gastar no restante da economia. Com isso, a prosperidade poderia ser transmitida dos trabalhadores do setor público para os do setor privado. Assim, o governo dos Estados Unidos, liderado pelo presidente Obama, adotou essa política e, quando não havia compradores suficientes de títulos para cobrir o déficit, o Fed entrou em cena para adquirir o restante.

E quando a fagulha não acendeu como os formuladores de políticas esperavam, eles insistiram ainda mais, dobrando a aposta repetidamente. As coisas eventualmente melhoraram, como geralmente ocorre nos ciclos econômicos, afinal, é assim que os ciclos funcionam, mas o resultado final foi a criação de uma quantidade enorme de dinheiro, que foi injetada no mercado de ativos financeiros. A década de 2010 presenciou um grande boom no mercado de ações, impulsionado por essa enxurrada de novo dinheiro em busca de um lugar para se alocar. Os preços dos imóveis também aumentaram de forma constante nesse período.

Ser pago para não produzir

Programas de assistência social, como muitas outras coisas, começaram com boas intenções, mas gradualmente se transformaram em um sistema que, em vez de oferecer às pessoas uma chance de se reerguer após uma dificuldade, virou uma muleta da qual elas não conseguem mais se livrar. O Medicaid tem estado nas notícias recentemente, com o presidente da Câmara, Mike Johnson, declarando: “mães solteiras com dois filhos pequenos apenas tentando sobreviver — é para isso que o Medicaid existe. Não para homens de 29 anos sentados no sofá jogando videogame”.

Medicaid é um seguro de saúde financiado pelo governo para americanos de renda extremamente baixa. Na maioria dos estados, um adulto solteiro com menos de 65 anos e sem filhos precisa ganhar até 138% do nível federal de pobreza para se qualificar para receber recursos do programa. Atualmente, isso significa uma renda de US$ 21.000 ou menos por ano. Ou seja, se essa pessoa ganhar US$ 21.100, ela perde o benefício “gratuito”.

Seguro de saúde é algo muito complexo (graças às regulamentações), mas custaria, em média, cerca de US$ 477 por mês para um adulto saudável de 30 anos contratar um plano privado, o que dá aproximadamente US$ 5.724 por ano. Portanto, esse adulto solteiro precisaria ganhar US$ 26.724 para manter o mesmo padrão de vida que tinha com US$ 21.000. Algumas pessoas estão dispostas a fazer sacrifícios por uma recompensa maior no futuro e aceitam esse revés. Mas, para muitas, o esforço adicional para trabalhar mais em busca de uma vida melhor se transformou em um retrocesso, e elas simplesmente não farão isso. Afinal, por que uma pessoa racional trabalharia mais apenas para acabar com menos? Como sair do sistema exige um sacrifício, muitos acabam sendo incentivados a permanecer exatamente onde estão.

Maior demanda sobre recursos limitados

Em 2021, o Infrastructure Investment and Jobs Act (Lei de Investimentos em Infraestrutura e Empregos) fez jus ao nome ao destinar US$ 7,5 bilhões para construir 500.000 estações públicas de recarga para veículos elétricos, enquanto, na realidade, apenas oito foram construídas. Seria interessante saber quanto cada estação custou, de fato, para ser construída, mas é razoável supor que a Tesla conseguiria fazê-las de forma mais barata, melhor e mais rápida. Porém, quando se trata do dinheiro público, o aparato administrativo do estado não tem incentivo para ser eficiente ou economizar, já que sempre pode tirar mais do contribuinte, e, se isso não for suficiente, pode recorrer ao Fed (o banco central dos EUA).

Mas essas ineficiências não prejudicam o cidadão comum apenas por desperdiçarem impostos. Projetos como esse colocam o governo em concorrência direta com empresas privadas pelos recursos limitados necessários para realizar tais obras. Isso aumenta a pressão sobre os preços e acaba encarecendo tudo para todos. Quando os carros começaram a substituir os cavalos, o governo não financiou a construção de postos de gasolina,  foram empresas privadas que fizeram isso. E elas também podem fazer o mesmo com estações de recarga para veículos elétricos.

O plano de Biden para levar banda larga para todos também está desperdiçando recursos, já que a tecnologia utilizada está ultrapassada, graças a provedores de internet como a Starlink, que utilizam satélites em vez de cabos. Mas, apesar de existirem opções melhores no setor privado, o governo levou o projeto adiante, consumindo mão de obra e metais preciosos, além de outros materiais.

Os gastos atuais do governo estão crescendo muito mais rápido do que a produtividade real da economia americana. Trata-se de um caminho insustentável rumo a uma crise financeira que tem potencial para fazer a Grande Depressão parecer até invejável. A única forma de evitar isso é reduzir drasticamente o tamanho do governo e seus gastos, de modo que os déficits fiquem abaixo do PIB e eventualmente se transformem em superávits. Apenas cortar gastos pode não ser suficiente, mas se o governo deixar de atuar como concorrente do setor privado, haverá a chance de um aumento real da produtividade, o que traria mais prosperidade e preços mais baixos.

Os Estados Unidos viveram seu maior período de crescimento durante a Revolução Industrial, quando a produção em massa reduziu drasticamente os custos da maioria dos bens de consumo, enquanto novas invenções melhoraram o padrão de vida. Tudo isso aconteceu sem que o governo interferisse ou ficasse com uma parte dos lucros. Isso pode acontecer novamente.

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Por Daniel Kowalski

Publicado originalmente em: https://encurtador.com.br/L9kkE

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