População em idade ativa trabalha, em média, 1.036 horas por ano — menos que em quase todos os países desenvolvidos. Governo pede mais esforço e eficiência para enfrentar escassez de mão de obra
A população economicamente ativa da Alemanha trabalha menos horas por ano do que em quase todos os demais países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), segundo estudo do Instituto Econômico Alemão (IW), divulgado pelo jornal Bild am Sonntag. Em 2023, a média foi de 1.036 horas anuais por habitante entre 15 e 64 anos — superando apenas França (1.027 horas) e Bélgica (1.021).
Em contraste, países como Nova Zelândia (1.402 horas), República Tcheca (1.326) e Israel (1.312) apresentaram as maiores cargas horárias. O dado alimenta o debate sobre a escassez de mão de obra no país e levanta preocupações sobre a competitividade da economia alemã.
Um esforço nacional
Em seu início de mandato, o chanceler federal Friedrich Merz (CDU) fez um apelo à população por mais dedicação. “Precisamos trabalhar mais e, principalmente, com mais eficiência neste país”, declarou, defendendo inclusive a extinção de um dos feriados nacionais.
O estudo aponta que, apesar do aumento em relação a 2013 — quando eram 1.013 horas por habitante — os alemães ainda trabalham menos do que nas décadas passadas. Segundo o autor do estudo, Holger Schäfer, o país tem subutilizado seu potencial de força de trabalho.
Jornada reduzida e desigualdade de gênero
Parte significativa da carga horária reduzida se deve ao alto número de trabalhadores em regime de meio período — especialmente mulheres. De acordo com a ministra do Trabalho, Bärbel Bas (SPD), 49% das mulheres na Alemanha estão nesse regime, muitas vezes contra a própria vontade, devido à escassez de vagas em creches. Entre os homens, esse número é de apenas 11%.
Bas alertou que essa situação compromete a aposentadoria futura das mulheres, já que as contribuições previdenciárias também são proporcionais à carga horária. O governo pretende ampliar
o acesso às creches e criar incentivos para que empresas promovam a transição para o tempo integral.
Medidas em estudo
Entre as propostas em análise pelo novo governo estão a criação da chamada “aposentadoria ativa” — que permitirá a trabalhadores além da idade oficial de aposentadoria ganhar até 2 mil euros mensais isentos de impostos — e a isenção fiscal para horas extras, com o objetivo de elevar a carga horária nacional.
Imigração como solução
Economistas apontam a necessidade de atrair imigrantes em idade produtiva como parte essencial da solução para a escassez de mão de obra. Segundo o Ministério da Economia, a falta de trabalhadores qualificados reduz o potencial de crescimento anual da Alemanha em até 0,2%. Especialistas alertam que o endurecimento contra a imigração irregular pode atrapalhar ainda mais a entrada de mão de obra necessária para sustentar o mercado e os serviços essenciais.