Na semana em que os holofotes do Senado deveriam estar sobre os contratos milionários de influenciadores com casas de apostas online, um gesto inesperado desviou as atenções – e virou o símbolo da politização espetacularizada das Comissões Parlamentares de Inquérito no Brasil. MONEY REPORT escolheu como Imagem da Semana o momento em que o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG) interrompeu a CPI das Apostas Esportivas para pedir uma “selfie” com a influencer Virginia Fonseca, convocada a depor como testemunha sobre sua relação publicitária com plataformas de apostas como Esportes da Sorte e Blaze.
O pedido inusitado, acompanhado de elogios ao “pré-treino” da influenciadora, recados pessoais à sua esposa e filha e um apelo cristão para que Virginia “não faça mais esse tipo de propaganda” viralizou nas redes sociais e provocou reação imediata do presidente da CPI, senador Dr. Hiran (PP-RR). Em tom grave, Hiran criticou o colega por transformar o depoimento em um espetáculo: “Não deixarei que isso aqui vire um circo”, declarou, prometendo rigor e seriedade na condução dos trabalhos.
A cena, transmitida ao vivo pela TV Senado, escancarou o atrito entre a seriedade institucional e a cultura da celebridade digital, um contraste reforçado pela própria imagem de Virginia, que chegou ao Senado de moletom estampado com o rosto da filha, copo Stanley rosa na bancada e mais de 53 milhões de seguidores no Instagram.
Convocada pela senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), a influenciadora é apontada como figura-chave na estratégia de marketing de plataformas de apostas, cujas operações e impactos sociais são alvo da investigação parlamentar. Apesar do direito de permanecer em silêncio garantido por lei, Virginia se apresentou com disposição para colaborar: “Tem muitas coisas que a gente não pode falar na internet, acredito que vou poder falar aqui hoje”, afirmou.
O episódio serviu de alerta: se a CPI das Bets pretende ir além do espetáculo e entregar respostas concretas sobre o papel de influenciadores na promoção do jogo online – um setor que movimenta bilhões –, será preciso separar o entretenimento da investigação. E isso vale tanto para os investigados quanto para os parlamentares.