Além da corrida para evitar as tarifas do governo norte-americano, dados represados e bom desempenho de alguns setores como frutas, calçados, ceras e pescados refletiram nos resultados
As exportações cearenses mais que dobraram em março deste ano, chegando a US$ 227,3 milhões. O crescimento foi resultado da expectativa em torno das tarifas que seriam anunciadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Com o resultado, o primeiro trimestre encerrou com US$ 453 milhões em vendas do Ceará para outros países, crescimento de 47% na comparação com igual período de 2024, segundo dados do Comex Stat, plataforma do governo federal que reúne dados do comércio exterior brasileiro.
O diretor da JM Negócios Internacionais, Augusto Fernandes, explica que o resultado veio como previsto. “As compras se anteciparam, justamente para evitar mais tarifas e bloqueios”. Questionado sobre o que esperar para os resultados de abril e dos próximos meses, ele destaca que o Ceará conta com vantagens competitivas ante outros mercados, a exemplo da localização geográfica e da eficiência do Complexo do Pecém. “O Ceará conta com uma grande vantagem que é a geográfica e, isso, tarifa nenhuma vai mudar. Estamos perto do maior mercado consumidor do mundo, que é os EUA. O segundo ponto é a eficiência do Complexo do Pecém, oferecendo vantagem administrativa no sentido de encontrar parcerias de negócios”, destaca Fernandes.
Ele também acredita que Brasil e EUA podem chegar a um acordo para uma isenção no aço laminado cearense. “No Trump 1 [primeiro mandato de Donald Trump], as lâminas foram isentas. No Trump 2 [segundo mandato], os Estados Unidos querem uma permuta com o nosso etanol, e se o Brasil souber costurar esse acordo, podemos novamente ter uma isenção para o laminado”, vislumbra.
Conforme os dados do primeiro trimestre, os Estados Unidos correspondem a 49% das vendas do Ceará ao exterior, com destaque para o aço. Reino Unido é o segundo maior destino das exportações cearenses, com 5,8%. Em seguida, estão Holanda (5,5%), Itália e China (3,2%).
Produtos exportados para os EUA
Além do aço e do ferro, pescados, calçados, couros e peles, frutas, leite e laticínios estão entre os principais produtos cearenses enviados ao país norte-americano. “A relação bilateral entre o Brasil e os EUA é tradicional e histórica. É o principal parceiro comercial do Ceará”, afirma gerente do Centro Internacional de Negócios (CIN) da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Karina Frota.
De acordo com o Comex Stat, o aço representa 39% das exportações que o Ceará realizou no primeiro trimestre para vários países. Em seguida aparecem os calçados, com 14%; frutas, com 11%; ceras, com 5,6%, demais produtos da indústria de transformação (3,9%) e pescados (3,1%).
Apesar dos dados expressivos terem como reflexo a antecipação dos mercados para fugir das tarifas dos EUA, Karina também destaca que houve algumas atualizações na base de dados do governo. Assim, dados que estavam de certa forma represados acabaram entrando no volume de março.
Para além dos dados represados, setores como o de frutas, calçados e ceras apresentaram bom desempenho neste início de 2025. “Houve bom desempenho de setores tradicionais, como frutas, calçados, ceras vegetais e pescado. No caso dos calçados, o aumento foi devido ao incremento nos embarques para a Argentina e Estados Unidos. O setor de frutas apresentou crescimento no valor exportado (melões, castanha, melancias) principalmente nas vendas para a Holanda e Reino Unido. Ceras tiveram incremento nas exportações para diversos mercados como Alemanha, China, EUA e Japão”, conclui Karina.