O presidente Luiz Inácio Lula da Silva arrasta a reforma de seu ministério há pelo menos seis meses – e corre o sério risco de entrar pelo sétimo sem mexer as peças no tabuleiro político que vai referendar o apoio dos partidos no processo eleitoral que ocorrerá em 2026. O governo, desde o início do mandato, vem sofrendo críticas pelo distanciamento com o Congresso e pela falta de tato do ministro da Casa Civil, Ruy Costa, no diálogo com siglas, deputados e senadores.
Um levantamento feito pela Agenda Transparente, serviço da ONG Fiquem Sabendo, mostra que o Planalto está isolado politicamente – e que é o governo que menos conversou com representantes do Parlamento desde 2014. Quando comparamos o número de reuniões de parlamentares com o presidente da República em seus primeiros 28 meses de mandato, veremos que Lula está na lanterna.
Michel Temer e Jair Bolsonaro tiveram cerca de 500 encontros com congressistas neste período. Dilma Roussef se encontrou com deputados e senadores em aproximadamente 160 ocasiões (em um período de apenas 17 meses, já que sofreu impeachment em 2016). E Lula? Apenas 96 vezes.
É muito pouco para quem sempre foi considerado um mestre na arte de relacionamento com a classe política – especialmente nos dois primeiros mandatos, de 2003 a 2010. Mas o Lula atual se assemelha mais ao dirigente que perdeu três eleições presidenciais em seguida justamente pela falta de jogo de cintura e intransigência na hora de negociar.
Neste terceiro mandato, o presidente parece estar cansado de dialogar e terceirizou o relacionamento com o Congresso para seus auxiliares mais próximos. Um deles, o ministro Costa, não goza de grande popularidade entre parlamentares. Já a ministra Gleisi Hoffman até tem sido elogiada por dirigentes partidários, mas a classe política quer se relacionar diretamente com o presidente.
Muita gente acredita que os políticos se movimentam apenas por cargos e verbas. Em boa parte dos casos, isso é verdade. Mas há aqueles que desejam mostrar prestígio e desfrutar de uma linha direta. Esse tipo de deferência resolve todo o tipo de problema na hora de virar votos em favor do governo.
Ainda existe um fator que complica ainda mais este relacionamento: a impopularidade de Lula. Um cargo de ministro, neste cenário, deixa de ser algo tão atraente. Vejamos o caso do deputado Pedro Lucas, que preferiu ficar como líder de seu partido, União Brasil, a assumir o ministério das Comunicações, mesmo após ter aceitado o convite. Isso trouxe constrangimento ao Planalto e foi considerado pelos políticos como um sinal inequívoco de fraqueza.
Por enquanto, Lula desenvolveu uma dependência excessiva dos presidentes das casas parlamentares, Hugo Motta (Câmara) e Davi Alcolumbre (Senado). É sempre bom ter um relacionamento forte com essas duas lideranças. Mas não se pode apenas construir alianças com autoridades. É sempre bom criar blocos informais, construídos a partir de relações pessoais – e isso Lula não fez desde 2023.
Talvez agora seja tarde demais para começar a se aproximar do Congresso. E esse distanciamento deve custar muito caro na campanha de 2026.