O cenário político brasileiro, sempre em mutação, mostra que as políticas sociais do Partido dos Trabalhadores, tão influentes na decisão do voto no passado, perderam importância nos últimos tempos. Isso explicaria a derrota de muitos candidatos de esquerda nas eleições municipais de 2024, que apontaram uma vitória expressiva da direita e do centro.
Neste admirável mundo novo, o esforço empreendido pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva para criar novos projetos de cunho social pode não ter o efeito desejado pelos estrategistas do Planalto. Um entrevista publicada ontem no jornal “O Globo” arrisca uma explicação para o fenômeno. O cientista político Felipe Nunes, CEO do instituto de pesquisas Quaest, diz o seguinte:
– O que o governo precisa entender é: tudo que ele faz não é mais do que uma simples obrigação para o eleitor. […] Nossas pesquisas mostram que 70% dos eleitores não têm medo de perder qualquer benefício social independente do governo que estiver em curso. Foi Jair Bolsonaro que contribuiu com isso ao manter e aumentar o valor do Bolsa Família, que ele tanto criticava.
A polarização acaba definindo muitos votos na esquerda e na direita, mas deixa a decisão, na prática, fica com uma minoria que tem o comportamento pendular nas urnas. Esse grupo, em 2022, acabou, por uma margem mínima, rejeitando Jair Bolsonaro e entregou uma vitória apertada a Lula.
Outro trecho da entrevista de Nunes pode ser utilizado para ajudar a explicar o que ocorreu em 2022. Só que, no cenário atual, os resultados são imprevisíveis:
– Vai vencer quem tiver menor rejeição em um grupo de pessoas específico: aqueles que votaram no Lula em 2022 e estão descontentes com o governo. São os liberais sociais, pessoas que antes votavam no PSDB e foram com o PT apenas naquele ano. Estamos falando de apenas 10% do eleitorado em disputa, nada mais do que isso.
Trocando em miúdos: a eleição está nas mãos dos eleitores independentes. São cidadãos sem fidelidade partidária ou ideológica, que votam de acordo com o contexto histórico e sem medo de escolher nomes com ideologias diferentes em dois pleitos seguidos.
Para Nunes, há dois nomes com maiores chances de sensibilizar esses 10% que decidirão as eleições presidenciais: os governadores Tarcísio de Freitas e Romeu Zema. Ronaldo Caiado e Ratinho Jr. estariam em um patamar inferior em termos de chances. Caiado porque teria dificuldades de viabilizar sua candidatura dentro de seu partido, o União Brasil. E Ratinho não seria visto como um candidato que represente tão fortemente o antipetismo.
Qualquer que seja o resultado, no entanto, já existe um vencedor: o chamado liberal social, dono dos 10% dos votos que vão decidir o próximo pleito e, possivelmente, o futuro de nosso país.