Ex-presidente dos EUA usou recursos de campanha para subornar uma atriz pornô que o chantageou em 2016
Em um decisão inédita na história americana, o ex-presidente e novamente candidato à presidência, Donald Trump, foi condenado nesta quinta-feira (30), em uma corte de Nova York, nas 34 acusações de fraude contábil da qual era acusado. Nas eleições de 2016, que o levaram à Casa Branca, ele usou indevidamente recursos de campanha para comprar o silêncio da ex-amante Stormy Daniels, então atriz pornô que o chantageava. Ela ganhou US$ 130 mil (cerca de R$ 675 mil em valores atuais) para ficar em silêncio a fim de não prejudicar sua campanha presidencial. O dinheiro foi entregue pelo então advogado Michael Cohen, que alega ter recebido ordens diretas do ex-presidente dos Estados Unidos. A decisão é passível de recursos, que devem ser julgados após as eleições de novembro.
Trump criticou o resultado do julgamento e disse que o verdadeiro veredito virá nas eleições de 2024. Ele também disse que é inocente e que a justiça é manipulada por seus adversários, apontando para o atual presidente, o democrata Joe Biden. “Eles sabem [o povo americano] o que aconteceu aqui. Todo mundo sabe o que aconteceu aqui”, afirmou Trump na saída da corte, se colocando como vítima e perseguido. Trump teria outro envolvimento com a ex-modelo da revista Playboy, Karen McDougal, cujo silêncio foi comprado com ajuda de um editor da publicação.
O julgamento do caso Daniels durou sete semanas e ouviu mais de vinte testemunhas. Daniels depôs dando detalhes de seus encontros sexuais com o futuro presidente no ano das eleições que este venceu. Na terça (28), os defensores do ex-presidente republicano apresentaram seus derradeiros argumentos. Na quarta (29), o caso começou a ser avaliado pelos 12 jurados, que entregaram suas conclusões unânimes na tarde desta quinta.
Mesmo com a condenação, Trump não estaria impedido de manter sua candidatura. As próximas eleições ocorrem em novembro. Sua pena deve ser determinada por um juiz até o início do próximo mês. As possibilidades variam de apenas uma multa até quatro anos de reclusão, grande parte dela em uma instituição prisional.
Como Trump é réu primário, poderia evitar a cadeia cumprindo pena domiciliar. Porém, ele possui contra si o comportamento agressivo diante do júri e as multas que lhe foram aplicadas por tentativa de intimidação dos jurados.
Capitólio
Pela legislação dos Estados Unidos, um condenado por crime pode concorrer a qualquer cargo e ser eleito. A exceção é não ter participado de alguma insurreição contra os EUA. O complicador é que Trump segue alvo de outra investigação sobre seu papel na instigação da invasão do Capitólio, em janeiro de 2021. Ele não foi acusado do crime, mas politicamente sua situação ficou mais frágil.
Como o caso julgado em Nova York é um crime estadual de fraude, não caberia um perdão federal diante de uma vitória eleitoral. Só quem poderia livrar Trump seria a atual governadora Kathy Hochul, uma adversária democrata, ou algum sucessor.
Trump também enfrenta outros três processos criminais federais que devem ser julgados após as eleições. Em Washington (DC) e na Geórgia, ele é acusado de conspiração para derrubar as eleições de 2020. Já na Flórida ele é acusado de ter manter consigo, de modo ilegal, documentos confidenciais da Casa Branca.
