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“Só máscaras e testes vão impedir a lotação das UTIs”, alerta pesquisador

O receio de que a expansão da pandemia vá tirar leitos das unidades de terapia intensiva (UTIs) dos hospitais privados – e dos clientes dos planos de saúde – para entregá-los aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) tem algum fundamento, mas não é uma possibilidade que deva ser considerada um problema. Se o governo tiver que requisitar a maior parte dos leitos de tratamento intensivo, certamente a pandemia estará completamente fora de controle.

Sanitarista, pesquisador de epidemias e professor de gestão da Faculdade de Saúde Pública de São Paulo (USP), Gonzalo Vecina Neto afirma que este risco pode ser evitado com medidas bem conhecidas do público. “Isolamento social, uso de máscaras nas ruas e a aplicação de testes frequentes. Só assim vamos cortar o contágio e impedir o estrangulamento do sistema de saúde”, diz. Ou seja, para conter uma pandemia como a do coronavírus, que não possui vacina nem remédios efetivos, só com prevenção. O pesquisador afirmou que a recente decretação da obrigatoriedade do uso de máscaras faciais no transporte público da cidade de São Paulo foi uma medida necessária e bem-vinda.

Vecina insiste que não é a oferta direta de leitos de UTIs – públicas ou privadas – que vai resolver solucionar a crise. Há questões estruturais envolvidas. Ele indica uma soma ignorada pelos leigos. Para cada leito de cuidados especializados, um hospital necessita de outros quatro em enfermaria para manter a taxa de ocupação eficiente, já que os pacientes da covid-19 apresentam mudanças em seus quadros ao longo dos tratamentos. Só nas unidades intensivas, a permanência costuma ser de duas semanas, enquanto a média para outras doenças e urgências é de 7 ou 8 dias. Ou seja, o SUS e os hospitais privados exigem mais leitos do que se supõe. Por exemplo: as 200 vagas no hospital de campanha montado no Estádio do Pacaembu não foram determinadas pela medidas do gramado, mas para complementar a oferta do Hospital das Clínicas, distante cerca de um quilômetro de distância. “Mas se faltar vagas, a solução será a fila única. A pandemia é uma anormalidade”, diz Vecina.

As autoridades sanitárias paulistas alertam que a capacidade das UTIs públicas da cidade de São Paulo atingiram a marca perigosa de 80% – no estado inteiro a taxa está em 45%. De acordo com os dados da Secretaria Estadual de Saúde, divulgados nesta quarta-feira (29), há 26.158 casos registrados, com 2.247 mortes e 3.445 pessoas nas UTIs, sendo que 1.437 delas estão em situação crítica. Mas há ainda espaço no sistema. Em todo o estado existem mais de 8,3 mil leitos de UTI, estima Vecina. Cerca de metade é ou foi requisitado pelo SUS. “Há um leito de cuidados intensivos no sistema público para cada 14 mil habitantes em São Paulo. Uma taxa mais alta que a de países como Espanha e Itália. O problema é que essas vagas estão mal distribuídas pelo país. Em alguns estados há muito poucas. É um reflexo de nossa desigualdade”, diz Vecina, que participou da criação do SUS e foi presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

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