A psicanalista Melanie Klein, em seus estudos que investigaram o comportamento dos bebês, ainda na primeira metade do século 20, chegou à conclusão de que as relações de amor e de ódio são provenientes da idealização que alguém tem em relação a um determinado objeto. Assim, se alguém ama uma pessoa ou uma determinada instituição, é porque a tem em alta conta; o mesmo vale para o ódio. Somente odiamos aquilo que sabemos ter suma importância em nossas vidas – uma pessoa ou uma entidade (partido político, time de futebol ou empresa).

É por isso que muitos dizem que amor e ódio são dois lados de uma só moeda. Assim, se você odeia algo ou alguém, o objeto da fúria lhe será importante de alguma forma. Diante disso, o que dizer da obsessão do presidente Jair Bolsonaro sobre a Rede Globo? Há poucas horas, ele foi visto segurando um cartas com os dizeres “Globo Lixo”, um mantra que é repetido por todos os seus apoiadores.

Se a raiva é grande, é sinal de que a existência da Globo incomoda o presidente e que Bolsonaro, de alguma forma, percebe e respeita a notoriedade deste grupo de comunicação. Mas essa polêmica toda, no fundo, não reduziu substancialmente a audiência da emissora carioca desde a posse do novo governo. No ano passado, por exemplo, segundo dados do Kantar Ibope, a Globo perdeu 3% de audiência (de 12,8 para 12,4 pontos). Essa pequena queda seria o efeito do cancelamento proposto por Bolsonaro? Não, pois a TV dos Marinho foi a que menos sofreu com perdas de telespectadores no ano passado.

Empresas de comunicação são remuneradas pela sua audiência. Aparentemente, os ataques bolsonaristas à Globo não surtem efeito ou provocam a curiosidade alheia. O fato é que a emissora já perdeu o que teria de perder por motivos ideológicos. Se Bolsonaro quiser fazer a Globo sofrer, é só parar de falar nela e orientar seus seguidores a fazer o mesmo. A indiferença, acreditem, fere mais que o ódio.