Uma publicação falsa que circula nas redes sociais alega que a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial de Saúde (OMS) pregam que crianças devem a ter parceiros sexuais, o que deve ser ensinado em escolas primárias. A postagem absurda e criminosa traz como prova um endereço de site que promete evidências sobre o assunto. O material também foi alegadamente distribuído pelo deputado federal Mário Frias (PL-SP), com chamada para uma publicação do site da apresentadora Karina Michelin.

A página Stop World Control informa que a ONU emitiu o relatório International Technical Guidance on Sexual Education (Orientação Técnica Internacional sobre Educação Sexual, em tradução livre) que ensina “masturbação, uso de pornografia, aprendizado de sexo oral e a terem relações homossexuais”. A desinformação de caráter conspiratório e paranoico repete com pequenas variações a fake do kit gay, surgida em 2010 na esteira do programa Escola sem Homofobia, que jamais foi lançado pelo Ministério da Educação (MEC).
Só que o documento de 139 páginas não possui a citação nem prega nada do que é anunciado no post. O relatório Orientações Técnicas Internacionais de Educação e Sexualidade (na versão em português) foi publicado em 2018 e discute a “comprehensive sexuality education (CSE)” (Educação Integral em Sexualidade, EIS, em português). Esse documento é dirigido a profissionais de Educação e de Saúde para ajudá-los a desenvolver e implementar programas educativos para que adolescentes tenham uma preparação segura, informada e responsável em relação à sexualidade, evitando abusos, estupros, doenças sexualmente transmissíveis e gravidez na adolescência. Em nenhuma página consta a afirmação que crianças devem ter parceiros sexuais e, tampouco, promove a masturbação.
Conforme a Organização Mundial de Saúde (OMS), o estudo é baseado em rigorosas evidências científicas. Em nota, a entidade aponta que uma educação sexual integral capacita as pessoas a tomar decisões informadas sobre sexualidade e relacionamentos, aumentando a autoestima e proporcionando resultados positivos à saúde física e mental.
“É mais provável que pessoas jovens adiem o início da atividade sexual e pratiquem sexo seguro quando estão mais bem informadas sobre sexualidade, relações sexuais e seus direitos. A educação sexual integral as ajuda a se prepararem e a administrarem as mudanças físicas e emocionais que ocorrem à medida que crescem, ao mesmo tempo que as ensina sobre valores fundamentais, como respeito e consentimento, e onde ir se precisarem de ajuda. Isso, de forma crucial, reduz os riscos de exploração e abuso”, explica a OMS.
O documento foi desenvolvido em parceria pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (UNAIDS) e ONU Mulheres.