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Como lidar com o lado B dos amigos?

Nesta semana, passei por duas situações que me fizeram pensar sobre as relações humanas – e as duas tiveram origem em grupos de WhatsApp.

Numa delas, um grupo de amigos discutia um determinado assunto. Um deles começou a levantar argumentos que não foram bem assimilados pelos demais membros. Um silêncio se seguiu à primeira postagem e comecei a debater o tema. No meio da discussão virtual – bastante amigável, apesar do confronto flagrante de ideias –, recebi mensagens particulares de apoio dos colegas que concordavam comigo. Até que um deles fez um comentário ácido: “Não sei como esse cara chegou aonde chegou pensando assim”. Respondi que todos nós tínhamos zonas cinzentas em nossas personalidades. A daquele amigo em comum seria defender determinados conceitos com os quais não concordávamos.

Em outro grupo, houve a discussão em torno de um empresário do qual sou amigo. Adjetivos fortes foram usados e situações vexatórias do passado recente lembradas. O lado ruim deste homem de negócios é inquestionável. Mas há um lado bom que pode ser amplamente percebido – mas muitos preferem olhar apenas para os defeitos (quem já não fez isso?) dessa pessoa.

Estas duas ocasiões revelam um comportamento que todos temos: perceber os outros apenas por um único filtro. Quando essas pessoas são desconhecidas, tudo bem. Mas e quando percebemos características indesejáveis (segundo nossa cartilha) em nossos amigos? Cancelamos a amizade?

Se for uma mera camaradagem, o tal cancelamento será fácil. Mas, e se for amizade mesmo? Daquelas que foram construídas com vínculo forte, solidariedade e quilometragem de horas boas e de horas ruins?

É algo que pode doer no coração. Mas, às vezes, não há outra solução. Algum tempo atrás, estava em um grupo e um dos membros fez uma apologia ao general Augusto Pinochet. Ponderei que aquele tipo de manifestação me incomodava – e ouvi que pessoas como o ditador sanguinário eram necessárias em nossa história. “Muitos gostam de degustar uma costela, mas poucos têm coragem de matar o boi. Pinochet é daqueles que matam o boi”, afirmou. Sou a favor da livre demonstração de ideias, mas meu limite é o enaltecimento da tortura e do assassinato. Fim da história? Aproveitei-me da condição de administrador do grupo e pratiquei o tal cancelamento sem dó nem piedade.

Cada um tem um gatilho para perder as estribeiras, seja no mundo online ou na realidade física. Eu particularmente tenho essa: ouvir alguém exaltando torturadores ou assassinos. Especialmente monstros desumanos como Pinochet ou verdadeiros desalmados como o falecido torturador e coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra.

Não adianta nem tentar argumentar que o país estava em guerra contra comunistas e guerrilheiros, que queriam implementar uma ditadura de esquerda no Brasil. Eu simplesmente acredito firmemente que o Estado não pode, de forma deliberada, impingir suplicias a um ser humano, tomando como base divergências políticas. Para quem não lembra, este mostro foi saudado pelo presidente Jair Bolsonaro quando o então deputado votou no impeachment de Dilma Rousseff: “Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff”.

Esse mesmo tema me fez sair de outro grupo, quando um dos membros replicou uma mensagem na qual dizia que que os jornalistas, em plena ditadura militar, tinham mais de apanhar.

Percebe-se que alguns assuntos voltam à ribalta mesmo quando alguém se manifesta contrariamente e diz que se incomodou. Por isso, parece que algumas pessoas se engajaram em um jogo de pirraça consciente, testando o seu limite. Aviso, então, aos navegantes: meu limite é falar bem de tortura, do encerramento das liberdades e da tirania. Atire essa pedra e receberá meu desprezo eterno em troca.

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