Paulo Guedes deu uma amostra, ontem, de como podem ser as relações entre Congresso e o novo governo. Defendeu a aprovação do atual texto da Reforma da Previdência ainda em 2018. Mas como convencer os deputados e senadores a votar num projeto que é impopular entre os eleitores? Guedes foi direto: “Prensa neles”.
O que é “prensar” os congressistas? Se for trabalhar a opinião pública a pressionar os parlamentares, OK. Mas, e se for tentar aprovar a reforma no grito? Não vai funcionar.
Jair Bolsonaro não é o primeiro presidente esquentado que tivemos desde a redemocratização. Fernando Collor, Itamar Franco (o falecido presidente Tancredo Neves definiu bem Itamar: “Guarda o rancor na geladeira”) e mesmo Dilma Rousseff foram exemplos de mandatários com pavio curto. Nestes três casos, contudo, tivemos ministros da Fazenda que eram uma espécie de contrapeso ao temperamento explosivo do chefe.
Collor teve Zélia Cardoso de Mello, absolutamente anódina, e o diplomata Marcílio Marques Moreira, que dispunha de um legendário autocontrole. Já Itamar teve vários ministros da Fazenda, mas o que ficou mais tempo no cargo foi Fernando Henrique Cardoso. Naquela época, FHC – ao contrário do que ocorre hoje – não dizia tudo o que lhe vinha na cabeça e se esforçava para costurar o apoio do governo entre a base de parlamentar. Já Dilma contava com um dos ministros mais insignificantes que o PT já produziu, o insípido Guido Mantega.
Ou seja, se esses presidentes mordiam, seus ministros assopravam.
Pela primeira vez, contudo, teremos uma situação na qual o presidente e o ministro da economia têm, ambos, sangue nos olhos. Bolsonaro, pelo que se vê, está tentando entrar numa fase moderada. Mas, aqui e ali, volta a ser o capitão de sempre. Guedes, por sua vez, está acelerando na curva sem hesitação.
Se um só for agressivo, tudo bem. Faz parte do jogo. Mas se presidente e ministro atuarem da mesma forma, teremos um início de governo palpitante e conturbado.