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Bolsonaro e a insistência em não ouvir os aliados

Os puxa-sacos tornam a vida de um governante mais difícil, pois dão força para ideias equivocadas e estratégias ruinosas. Muitas autoridades se cercam deste tipo de gente e acabam ouvindo apenas o que desejam escutar. Com o presidente Jair Bolsonaro, no entanto, tem acontecido o contrário. Recentemente, vem escutando de seus aliados – os políticos do Centrão – aquilo que não quer ouvir, sob a forma de sugestões para virar a maré negativa das pesquisas. O resumo da ópera: nomear uma mulher para o posto de vice, aproveitar as viagens ao Nordeste para falar das melhorias no programa Auxílio Brasil e mostrar em entrevistas e discursos que o desemprego está caindo, em função de medidas do governo para criar vagas.

Apesar disso, Bolsonaro resolveu apostar em uma estratégia oposta. Já anunciou que vai nomear o general Walter Braga Netto como seu vice e seus assuntos favoritos são falar mal das pesquisas e das urnas eletrônicas – além de gastar saliva para defender o ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, alvo de uma investigação sobre corrupção pela Polícia Federal.

Bolsonaro parece viver em uma realidade só sua, ignorando o que dizem seus correligionários. Os principais aliados do Planalto têm se esforçado para que o presidente atue com foco em três públicos específicos. O primeiro é o contingente de mulheres, hoje representando 53 % do eleitorado (são 8,5 milhões de votos a mais que os dos homens). Em seguida, a preocupação é com o Nordeste, onde estão concentrados os beneficiários do programa Auxílio Brasil. Por fim, a preocupação ainda atinge os desempregados, que ainda somam 9,4 % da população economicamente ativa em abril (contra mais de 14 % dezoito meses atrás).

O presidente, porém, prefere jogar para a torcida, vociferando contra a esquerda e o Supremo Tribunal Federal. É o terreno onde se sente mais confortável, especialmente quando deseja motivar seus seguidores mais fiéis.

As últimas pesquisas mostraram uma pequena subida no número de votos para o presidente. Mas Lula permanece na liderança com uma vantagem considerável. Bolsonaro segue seu instinto – segundo o qual irá trazer os eleitores moderados para perto de si no Segundo Turno, esperando que ele seja visto como a única alternativa viável diante de Lula, reforçando as acusações de corrupção feitas na Operação Lava-Jato.

Ocorre que a campanha de 2022 é bem diferente da de 2018.

Em primeiro lugar, a preocupação com a corrupção era bem maior no passado, o que reduzia as chances do PT. Bolsonaro, de seu lado, ainda era uma alternativa inédita em cargos majoritários – e o episódio da facada o retirou de circulação. Essa soma de dois fatores elevou a expectativa em torno do candidato e não deixou que suas ideias fossem melhor disseminadas junto aos eleitores.

Hoje, a corrupção deixou de ser um dos temas mais importantes do país e Bolsonaro enfrenta os desgastes naturais de um governante. Neste ano, porém, há um fator a mais de estresse: a volta da inflação, que assola muito sobremaneira as classes C, D e E (cerca de 85 % da população).

Curiosamente, o presidente Jair Bolsonaro repete o comportamento de Donald Trump nas eleições americanas de 2020: desdenhou as pesquisas, sugeriu que haveria fraude eleitoral e criou uma narrativa totalmente voltada para quem já iria votar nele. Quatro anos antes, no entanto, Trump havia conquistado uma fatia expressiva dos chamados “swing voters” (“eleitores pendulares”, em uma tradução livre) e foi isso que o levou à Casa Branca.

No Brasil, acontece algo parecido. Bolsonaro parece acreditar que possui os mesmos 57 milhões de votos que obteve em 2018 e promove uma narrativa em sua campanha que desagrada parte do Centro. Entretanto, uma parte razoável dessa massa eleitoral parece, hoje, ter caminhado em direção a Luiz Inácio Lula da Silva ou tomado o caminho dos sufrágios nulos e brancos.

O Centrão – com todos os defeitos que conhecemos – está fazendo sua parte e tentando alertar o presidente. A insistência de Bolsonaro em ignorar os avisos do grupo de Ciro Nogueira e Arthur Lira, porém, pode custar caro para a situação. Mas se o triunfo de Lula for irreversível, o Centrão vai dar um jeito de ficar onde sempre esteve: pensando nos próprios interesses e instalado na antessala do Poder.

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