Até o mês de maio, o Brasil enfrentou uma economia claudicante e uma inflação teimosa. Como reflexo dessa situação, as pesquisas mostraram um crescimento da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva e uma estagnação no desempenho de Jair Bolsonaro. Em ano eleitoral, a economia acaba sendo um importante cabo eleitoral – seja para a situação ou para os opositores.
Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o presidente do PDT, Carlos Lupi, abordou esse tema. “Comida, combustível, botijão. Isso para Bolsonaro vai ser fatal. Em quatro meses mudam isso? Não conseguem. Pode segurar uma coisinha aqui, outra ali. Isso vai pesar muito. A rejeição dele vai acentuar muito por causa do preço da comida, do aluguel”, declarou. Ele disse que, por isso, acredita em um segundo turno entre Lula e Ciro Gomes, o candidato de seu partido.
A inflação, de fato, é o principal problema da economia brasileira, além de se tratar de um desafio mundial. Mas lembremos que a espiral inflacionária não necessariamente joga o desempenho econômico no chão. É possível (embora não desejável) ver o PIB subir mesmo com uma alta constante nos preços.
Há alguns sinais de recuperação econômica no horizonte. O índice de desemprego, por exemplo, caiu de 14,5 % em janeiro de 2021 para 10,5 % em abril de 2022. Ainda é um número alto, mas mostra uma tendência de reabilitação. Isso foi corroborado pelas novas previsões de desempenho econômico para este ano. O Goldman Sachs, por exemplo, reajustou sua estimativa de alta do PIB brasileiro em 2022 de 0,6 % para 1,5 %. Também não é exatamente uma expansão excepcional – mas aponta que há uma possibilidade de que este ano não seja tão ruim quanto o mercado financeiro estava prevendo.
Essas boas notícias – que ainda precisam de um anabolizante – terão efeito sobre as eleições?
Por enquanto, apenas a inflação em alta está interferindo no julgamento dos eleitores. Conseguirá o governo promover uma virada positiva em quatro meses, a tempo de capitalizar a nova maré em votos? Ainda é cedo para saber. Mas é uma hipótese que precisa ser considerada pela oposição, que até agora cresceu nas sondagens eleitorais sem fazer grandes esforços.
Em São Paulo, há sinais visíveis de recuperação, como o trânsito forte (apesar dos altos preços da gasolina) e comércio agitado. Ainda não há estatísticas que possam comprovar tais indícios, mas percebe-se que o comportamento da classe média não é aquele que se observa em períodos de recessão.
A dúvida é se o governo terá tempo hábil para se aproveitar de um eventual reaquecimento econômico. Há dois pontos importantes nessa equação. O primeiro deles e mais evidente é refrear a alta de preços – um processo que não deve ser controlado tão cedo. A segunda questão está em uma onda mais forte de diminuição do desemprego. Nos últimos dezoito meses, cerca de 3 milhões de brasileiros deixaram a inatividade e foram contratados por alguma empresa. Vamos supor que a economia continue a se recuperar. Quantos novos empregos poderiam ser criados tão rapidamente?
Desvendar esse mistério pode ser a chave para compreender as reais chances de Lula e de Bolsonaro. Se houver uma chuva de contratações, reduzindo o índice em um ou dois pontos percentuais, o governo passará a ter mais chances para virar o jogo. Mas, se os indicadores ficarem estáveis, o nome de Lula ganhará mais força.
Alguns bancos já apontam um crescimento para 2022 em torno de 1,5 %, como C6, Bank of America e Inter. Os economistas ligados a essas instituições, no entanto, ressalvam que os juros vão subir ainda mais para combater a inflação e que isso, ao final, poderá desacelerar essa retomada.
Com incertezas em relação à velocidade com a qual a economia pode ser recuperar, teremos ainda dificuldades para entender o quadro eleitoral de hoje e extrapolá-lo para outubro deste ano. As eleições, assim, ainda não podem ser consideradas ganhas por um lado ou por outro. Mas deverão ser definidas pelo bolso dos eleitores e seu grau de pessimismo/otimismo em relação ao futuro.