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A esquerda ganhou na Argentina e no Chile. Vai também vencer no Brasil?

Ontem, o ex-líder estudantil Gabriel Boric (imagem), de apenas 35 anos, ganhou as eleições presidenciais no Chile. É mais um país de expressão da América do Sul no qual a esquerda consegue vencer nos últimos tempos – o primeiro foi a Argentina, com a vitória de Alberto Fernandez em 2019. No ano que vem, teremos também eleições presidenciais. Luiz Inácio Lula da Silva é líder em todas as pesquisas eleitorais feitas recentemente. Isso significa que a esquerda também será vitoriosa no Brasil?

Argentina, Chile e Brasil têm grandes semelhanças no perfil político de seus habitantes, a começar pela polarização entre esquerda e direita. Nos três países, os eleitores de centro cumprem a função de decidir os pleitos e têm se comportado de forma pendular desde que essas nações voltaram à democracia, com vantagem numérica de resultados para a esquerda.

No caso argentino, um candidato com promessas liberais não conseguiu cumprir o programa divulgado durante as eleições e inflou a oposição peronista, que voltou à Casa Rosada com Alberto Fernández.

O Chile, no entanto, passou por um processo mais complexo. Protestos nos últimos anos colocaram em xeque o modelo econômico engendrado desde a ditadura militar e provocaram um imenso confronto de ideias dentro da população. De um lado, os conservadores e, de outro, centristas e esquerdistas que desejavam mudanças na economia. Com um detalhe especial: o conservadorismo, que no Chile sempre foi muito forte, perdeu espaço recentemente (um exemplo: no plebiscito que decidiu em 1988 se o general Augusto Pinochet continuaria no poder, o “sim” teve 44 % dos sufrágios).

Há uma outra semelhança entre Argentina, Chile e Brasil. São três economias que estão patinando e longe de obter o crescimento necessário para gerar empregos e riquezas. Além, disso, a inflação nos três países também preocupa. Aqui no Brasil, nos incomodamos com um índice que anda por volta dos 10 % anuais. Na Argentina, porém, a alta de preços é cinco vezes maior.

Ou seja, nossos vizinhos enfrentaram problemas semelhantes aos nossos e optaram por abrir a porta da esquerda (porém, em novembro, nas eleições parlamentares, os argentinos deram um aviso: o governo perdeu a maioria no Senado, mas manteve a hegemonia da Câmara, contra todas as expectativas). Os empresários argentinos, ao contrário da maioria da população, já perderam a paciência. Eles se queixam muito da interferência dos sindicatos dentro das empresas e de uma inflação que ultrapassa os 50 % anuais.

Isso tudo somado significa que Lula vai vencer?

Estamos falando de problemas que parecem ser parecidos, mas que têm muitas peculiaridades regionais. Mas há dois pontos importantes nessa comparação que podem ter semelhanças significativas com o caso brasileiro.

A primeira é o fracasso do ex-presidente Maurício Macri, que prometeu colocar a Argentina nos trilhos do liberalismo e apenas entregou um arremedo de agenda liberal. Embora a receita dos liberais não tenha sido implementada no país, a mensagem que a esquerda passou ao eleitorado foi uma só: a direita deu errado. O resultado foi a volta dos peronistas.

O segundo ponto tem a ver com o aumento do índice de pobreza no Chile, que saiu de 8,6 % da população em 2017 para 10,8 % no ano passado.

No Brasil, também tivemos um governo que prometeu o liberalismo e deixou a receita de Milton Friedman no meio do caminho. Ao lado disso, o número de pobres no país saltou de 9,5 milhões em agosto de 2020 para mais de 27 milhões em fevereiro de 2021 (dados da Fundação Getúlio Vargas).

A combinação destes dois fatores, ao lado de uma economia que não decola e de uma inflação insistente, pode continuar a desgastar o governo de Jair Bolsonaro e inflar ainda mais a candidatura de Lula. Tivemos uma pandemia no meio do caminho, é verdade – mas convenhamos que a disposição do presidente Jair Bolsonaro de se manifestar contra a vacina que combate a Covid-19 também não ajudou a aumentar sua popularidade.

Não temos no Brasil ninguém para rivalizar com o petista a condição de adversário direto de Bolsonaro. Ou seja, Lula pode se beneficiar sozinho do desgaste do atual governo e tomar conta do Planalto em 2023.

Devemos lembrar, porém, que o adversário de Boric no Chile, o extremista José Antonio Kast, teve dificuldade de trazer os eleitores de centro para sua órbita – principalmente quando ficou provado que, ao contrário do que Kast sempre disse, seu pai foi de fato um membro ativo do nazismo.

A fotografia eleitoral, hoje, mostra que as chances de Lula repetir o resultado de seus colegas chilenos e argentinos é alta – mesmo com a rejeição que ele ainda causa em boa parte do centro, que (como a direita) não esqueceu as acusações surgidas na Lava-Jato e apoiaram a prisão do ex-presidente.

Uma parcela dos centristas, entretanto, parece ter virado a página colada de Lula e está  disposta a votar no PT na eleição do ano que vem. Bolsonaro, de seu lado, vem apostando no Auxílio Brasil como uma forma de se recuperar. Mas, o anúncio de um benefício de R$ 400 mensais não trouxe refresco e a rejeição ao presidente continua alta. Por isso, o Centrão já articula uma tentativa de aumentar o pagamento social de R$ 400 para R$ 600. Isso pode até ajudar a popularidade de Bolsonaro. Mas pode desmantelar de vez a economia, que vem mostrando dificuldades – não só com a alta inflação, mas também com a baixa geração de empregos.

Se a economia reagir mal a essa iniciativa, o destino do governo estará selado – e a derrota parece ser o único caminho. Ainda falta muito tempo para cravar um prognóstico definitivo. Mas os resultados do Chile de ontem são um sinal de alerta – e dos grandes – para o governo.

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