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Cada vez menos gente quer discutir política. Por quê?

Uma pesquisa divulgada ontem pelo Datafolha mostra um efeito nefasto da polarização política: 49 % dos brasileiros deixaram de falar sobre política para evitar discussões. Este fenômeno começou com o antipetismo exacerbado após as denúncias da Operação Lava-Jato, que teve início em 2014. A temperatura subiria em 2018, durante a eleição presidencial. E continuou alta nos últimos quatro anos.

Nas eleições passadas, lembro de um meme que circulou bastante na época: “Vou passar o Natal com Jair Bolsonaro porque briguei com toda a minha família”. Os ânimos exacerbados, de fato, criaram cizânias nos almoços de domingo e em datas comemorativas, além de balançar amizades duradouras.

Hoje, percebe-se que muitos estão segurando a própria língua para não criar antagonismos exagerados. Cerca de uma em duas pessoas preferem passar batido sobre temas políticos e não iniciar uma polêmica. A agressividade dos últimos anos, sem dúvida, trouxe cansaço a muitos eleitores, que preferem deixar sua opinião escondida para não causar controvérsias.

Isso ocorre no mundo real e também nas redes sociais. Neste ambiente digital, por exemplo, 53 % dos eleitores preferiram ficar quietos para evitar conflitos com amigos e familiares. Nos grupos de WhatsApp, que agitaram fortemente o pleito de 2018, a coisa não é diferente: 43 % pararam de falar sobre política e 19 % saíram de algum grupo.

Um eleitor em cada cinco prefere simplesmente sair de um grupo quando não gosta daquilo que lê. Esse é o movimento que se consolida a cada dia: gente que prefere calar a boca e evitar um cancelamento generalizado. Na prática, é um reconhecimento de que, em plena polarização, ninguém vai mudar de ideia. A pesquisa, porém, não consegue capturar algo que é feito a torto e a direito nos dias de hoje: arquivar um grupo e deixar de segui-lo, ignorando o conteúdo postado no fórum.

Há pessoas também que se sentem incomodadas com a virulência com a qual certas ideias são defendidas ou atacadas. Ou seja, pode-se até concordar com o que é publicado. Mas isso é feito com tanta agressividade que afasta os usuários e os empurra em direção oposta.

O barulho infernal – na vida real ou na virtual – é feito pelos mais radicais, seja de um lado ou de outro. Mas, curiosamente, somente oito por cento dos entrevistados participam de grupos de apoio aos principais candidatos. Neste caso, o eleitorado divide-se pela metade: 4 % apoiam Bolsonaro e 4 % Lula.

Na prática, os eleitores já se decidiram. As pesquisas mostram que 75 % a 78 % dos sufragistas já escolheram um nome, enquanto cerca de um quarto ainda não se decidiu. Assim, talvez seja por isso que um grande naco de eleitores ache não valer a pena o desgaste gerado pelas discussões (ao vivo ou via smartphone).

É uma pena que tenhamos chegado a esse estágio. O ideal para o avanço de uma Nação é justamente o debate e a troca de ideias. Se nos acostumarmos com esse desencanto, demoraremos muito para evoluir, pois viveremos ensimesmados em nossas próprias opiniões, sem colocá-las à prova.

Como disse Friedrich Nietzsche, “não há fatos eternos, como não há verdades absolutas”. Diante dessa máxima, surge a pergunta inevitável: vale a pena viver em um mundo (ou em um país) sem debates, no qual a maioria das pessoas tem certeza total de que suas ideias são as corretas?

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