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Falta de cidadania postal? O exemplo da Favela Llog é animador

O ano de 2023 foi difícil para o varejo e esse cenário se refletiu nas vendas realizadas no mundo digital. De janeiro a junho, as vendas no e-commerce brasileiro caíram 7,3 %. Mas isso se deve a uma condição macroeconômica que abalou o setor como um todo – e a tendência é a de que este canal deverá crescer nos próximos anos, após o “boom” observado na pandemia. Um exemplo disso é o número de clientes no ambiente cibernético. O número de pessoas que compram online cresceu 6 % no primeiro semestre, chegando a 53 milhões de usuários.

Este cenário, no entanto, se contrapõe a um desafio: os Correios não efetuam entregas em várias regiões do Rio de Janeiro e de São Paulo por falta de segurança. São os chamados “CEPs bloqueados”. Estamos falando de regiões nas quais os carteiros não trabalham por conta de violência. No Rio, um em cada quatro CEPs da cidade está bloqueado. E a tendência é de crescimento. Segundo levantamento feito pela Folha de S. Paulo, havia 5.220 códigos de endereçamento postal nessa situação em terras cariocas no ano de 2017. No primeiro semestre de 2023, entretanto, esse montante subiu para 6.934.

A Baixada Fluminense, desde os anos 1980, foi considerada um polo de violência no Rio. Não se espanta, portanto, que o município de São João do Meriti, lá localizado, tenha 47,1 % de seus CEPs considerados inválidos.

Mas se engana quem acha que esse problema se restringe apenas aos fluminenses. É verdade que, da lista das dez cidades mais acometidas por este tipo de problema, temos cinco localizadas no estado governado por Cláudio de Castro (a capital é a décima, com exatos 26,2 % dos códigos bloqueados). As demais estão justamente em São Paulo, incluindo a primeira do ranking: São Vicente (62,3 %), seguida por Diadema, com 59,3 %. O litoral sul de São Paulo, inclusive, aparece em peso nessa lista. Guarujá está em sexto (35,5 %), Praia Grande em oitavo (33,9 %) e Santos em nono (26,2 %).

É inadmissível que tenhamos, em pleno Século 21, brasileiros que não possam exercer sua cidadania utilizando um CEP que funcione. Não receber uma encomenda pelos Correios, nos dias de hoje, é sinônimo de não-existência. Este problema, evidentemente, é consequência do desequilíbrio social e da violência que acomete determinados municípios há tempos. Portanto, não se pode apontar o dedo para um ou outro governante atual na hora de encontrar culpados.

A essa questão soma-se outro problema – o das favelas e de regiões que sequer têm um CEP para chamar de seu, pois os Correios também não consideram esses locais seguros para o envio de funcionários. Essa situação ganhou um termo entre os estudiosos da sociedade: cidadania postal. Sem a tal cidadania, um cidadão, por exemplo, não consegue preencher uma ficha para obter um emprego, pois há um campo específico para o endereço do candidato, com o respectivo código de endereçamento postal.

Enquanto esse desafio não é resolvido (ou mitigado), podemos insistir com as autoridades para que tais regiões recebam maior atenção, seja no reforço ao policiamento ou no combate às milícias locais, especialmente no caso do Rio de Janeiro.

Este processo, contudo, não será resolvido de uma hora para outra. Mas, para variar, a iniciativa privada pode entrar em campo quando os governos andam devagar demais. É o caso do empresário Luciano Luft, que se associou à Favela Holding, capitaneada por Celso Athayde, e colaborou para criar a Favela Llog, que atua como empresa de logística dentro das comunidades.

Com frota própria, de carros e motocicletas, os colaboradores da Favela Llog entregam encomendas nesses locais nos quais os CEPs estão bloqueados ou inexistem, trazendo cidadania aos moradores e ajudando a baixar os preços das mercadorias consumidas nestes locais. É que os estabelecimentos comerciais das favelas compram produtos em supermercados comuns e os revendem com preços maiores. Com a Favela Llog, tanto comerciantes como consumidores têm acesso a custos melhores – e podem se sentir cidadãos com “C” maiúsculo.

Hoje, são 5.190 CEPs atendidos pela Favela Llog após 14 meses de operação – e, no ano que vem, a iniciativa deve atingir 13.000 códigos postais. Em 2024, de vinte a trinta novas bases serão inauguradas, distribuídas por todo o país.

O exemplo dado por Luft deve ser seguido por todos nós. Atitudes como essa mostram o quanto a iniciativa privada tem a contribuir para reduzir nossos problemas sociais.

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