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Construção industrializada aliviaria déficit de moradias

Há custos e falta de mão de obra, mas o uso de estruturas pré-fabricadas tem tudo para emplacar em um país onde faltam 4 milhões de residências populares. Basta organizar direito

Erguer uma pequena residência em questão de horas pode abrir um latifúndio de possibilidades para a construção civil no Brasil, onde há déficit de cerca de 4 milhões de moradias – sem contar as vastas aplicações comerciais e industriais. Entretanto, as empresas ligadas à construção industrializada, baseada em componentes pré-fabricados transportados aos locais das obras, lutam para ganhar mercado com alguma lentidão.

Para confirmar a tendência, a Boxabl foi adquirida por Elon Musk. Uma casa “dobrável” da startup custa cerca de US$ 50 mil, pouco para os padrões dos Estados Unidos. As paredes, piso e telhado são de painéis de concreto, aço e espuma EPS (isopor), mais resistentes do que madeira, metal e gesso empregados na maioria das construções por lá. Essa matéria-prima não é danificada pela água e nem cria mofo – o que cabe muito bem ao clima úmido brasileiro. Por enquanto, o carro-chefe é a minirresidência Casita, de 36 metros quadrados e dois pisos com sala, quarto, cozinha e banheiro. Um lar que o proprietário pode entrar para morar no mesmo dia, se as instalações hidráulicas e elétricas ficarem prontas também. A intenção da Boxabl é criar modelos maiores e mais lucrativos.

No Brasil, segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, apenas 10% das obras se valem soluções industrializadas. “Isso é preocupante. Para reduzir o déficit habitacional é necessário escala e aumentos de produtividade. A construção industrializada atende exatamente a esses requisitos”, afirma Ana Maria Castelo, coordenadora dos projetos de construção da FGV Ibre.

Castelo lidera um estudo com a Francal Feiras que mapeia os sistemas de construção utilizados no Brasil, identificando oportunidades e desafios. “Os resultados serão utilizados para subsidiar a tomada de decisões sobre políticas públicas e o desenvolvimento de novas tecnologias”.



Pedreiro e betoneira

As empresas contam com os resultados deste estudo para direcionar seus esforços. Esse mercado cresce há três anos consecutivos e quer se colocar como solução para moradias acessíveis, sustentáveis e ambientalmente mais seguras.

Os desafios envolvem lidar com as barreiras de preço, por causa da falta de escala, e de cultura. “Trata-se de um campo apegado aos métodos artesanais, que exigem mão de obra cada vez mais difícil de encontrar”, opina Laura Marcellini, diretora técnica da Associação Brasileira da Indústria Materiais de Construção (Abramat). Ela critica a carência de inovação e defende a necessidade de ampliar o conhecimento sobre construção industrializada, além de investir em infraestrutura e qualificação de mão de obra.

A primeira vantagem vem de fábrica. Em vez de um pedreiro diante de uma betoneira misturando cimento para depois sentar bloco a bloco, o projeto vem com um controle de qualidade que garante precisão nas peças e durabilidade na construção. Sem contar que há menos desperdício e impacto ambiental. De diferente, talvez só um caminhão com guindaste na frente do terreno.

Se tudo é tão bom, o que falta? Talvez união. A Francal Feiras que usar o Concrete Show, em agosto, e a Modern Construction Show, em outubro, ambas em São Paulo, para apresentar essas soluções de modo mais enfático. Afinal, o Minha Casa, Minha Vida está aí e promete.

As cinco construtoras listadas na Bolsa, Cury, Direcional, MRV, Plano & Plano e Tenda, tiveram receita líquida de R$ 4,7 bilhões no quarto trimestre de 2023, com lucro de R$ 313 milhões. Os lançamentos cresceram em 20% no período na comparação anual, podendo atingir R$ 6,8 bilhões. Em 2022, o faturamento mal cobriu custos.

Barreiras

Por isso a hora de convencer as construtoras chegou. “Queremos mais que um simples encontro de negócios”, afirma Renato Cordeiro, head de produtos da Francal. “Teremos um público qualificado e uma oportunidade única para o setor se conectar, compartilhar conhecimentos e impulsionar o seu desenvolvimento”, diz.

Até a onipresente barreira dos impostos está na mira – e precisa mudar. Maria Carolina Sampaio, head da área tributária e sócia do GVM Advogados, explica que a tributação da construção civil sofre uma grande distorção entre o que é feito no canteiro e o que vem de fábrica. “A construção convencional é considerada serviço e paga ISS, cuja alíquota máxima é de 5%. Já as obras que utilizam pré-fabricados, pagam ICMS sobre o material, sendo que este imposto é cobrado na alíquota média de 18%”. 

A esperança reside na Reforma Tributária, com o imposto sobre valor agregado (IVA) unificando a cobrança de impostos sobre a construção tradicional e a indústria de pré-fabricados. Dependerá da regulamentação. “A disparidade acabaria, ainda que a construção convencional provavelmente se torne mais cara”, afirma Sampaio. A mudança pode entrar em vigor a partir de 2026.

Outra ajuda modernizadora pode vir do ConstruaBrasil, do governo federal, se não ficar só preso às costumeiras isenções. “Apesar dos desafios, vejo um futuro promissor, com tendência de crescimento para os próximos anos, acompanhando a evolução tecnológica global, e as demandas que já são urgentes para aumento da produtividade e competitividade do setor da construção civil no país”, considera Marcellini, da Abramat. 

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