O valor do produto subiu mais de 57% no ano, de acordo com números divulgados pelo IBGE
Com alta acumulada em quase 30% no preço do leite, oito indústrias de laticínios têm até a próxima semana para prestar esclarecimentos ao Ministério da Justiça. A Senacon, Secretaria Nacional do Consumidor, quer saber o porquê da alta dos preços e se os fabricantes utilizam soro de leite, que é o líquido que sobra da fabricação de queijos, para produzir bebidas lácteas.
Foram acionadas pela entidade de defesa do consumidor as empresas: Danone, Italac, Lactalis, Piracanjuba, Laticínios Porto Alegre, Nestlé, Quatá e Vigor.
As empresas foram notificadas pela Senacom, no início desta semana, e devem informar se os consumidores têm informações claras sobre a composição dos produtos, os valores nutricionais e o conteúdo dos rótulos. Isso porque é comum o cliente confundir, no ato da compra, o leite com a bebida láctea, que costuma ser mais barata e costuma ter a embalagem parecida, ou igual.
Aumento
O preço do leite longa vida aumentou 22,27% em julho e foi a principal influência para a alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – 15 (IPCA-15) no mês passado. O valor do produto subiu 57,42% no ano, de acordo com números divulgados na terça-feira (26) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Os valores de produtos derivados do leite aumentaram, como requeijão (4,74%), manteiga (4,25%) e queijo (3,22%). Também subiram os valores das frutas (4,03%), do feijão-carioca (4,25%) e do pão francês (1,47%).
Valorização
O aumento expressivo do leite é consequência da queda na oferta do produto no campo em junho e pela disputa das indústrias de laticínios pela compra da matéria-prima para a produção de lácteos, para tentar evitar capacidade ociosa de suas plantas.
Segundo pesquisa do Cepea, o leite spot se valorizou 20,8% da primeira para a segunda quinzena de junho, chegando a R$ 4,16/litro.
A média mensal, de R$ 3,80/litro, ficou 26,2% maior que a registrada em maio. Diante do aumento no custo da matéria-prima e com estoques baixos, os preços dos derivados lácteos dispararam em junho.
A diminuição da produção de leite no campo e, consequentemente, a redução dos estoques de lácteos no último mês está relacionada ao avanço do período de entressafra em um contexto de redução de investimentos na atividade.
Custos de produção
O aumento dos preços dos insumos agropecuários tem elevado consideravelmente os custos de produção desde 2019, pressionando as margens dos produtores por muitos meses.
Nesse cenário, muitos pecuaristas enxugaram investimentos ou saíram da atividade. Desse modo, o potencial de oferta já vem em retração há algum tempo.
Contudo, a restrição da produção ficou mais intensa com o avanço da entressafra em junho.
Sazonalmente, espera-se que a produção de leite se reduza devido ao inverno e ao clima mais seco, que diminuem a qualidade e a disponibilidade das pastagens, prejudicando, assim, a alimentação do rebanho. E é preciso destacar que, neste ano, o fenômeno climático La Niña também intensificou os efeitos sazonais de diminuição da oferta.
Perspectiva
Colaboradores consultados pelo Cepea afirmam que a demanda por lácteos se enfraqueceu durante a segunda quinzena de julho, desestimulada pelos altos preços nas gôndolas. O movimento tem pressionado as cotações dos lácteos e do leite spot, indicando que o pico de preços ao longo da cadeia produtiva já pode ter sido atingido.
Do ponto de vista da sazonalidade, a produção só deve ser incentivada com o retorno das chuvas da primavera, em setembro. Contudo, desde maio, os custos de produção têm aumentado menos do que em meses anteriores.
E, apesar de os custos com as operações mecânicas seguirem em alta devido à valorização dos combustíveis, a queda nas cotações do milho tem favorecido a atividade – o que pode beneficiar a retomada de investimento e a recuperação mais rápida da produção.