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Aumento nos preços das importações já afeta balança

Índice da FGV avalia os principais impactos da guerra para o comércio exterior do Brasil

O impacto da guerra entre a Rússia e a Ucrânia no comércio mundial acarreta aumento nos preços das commodities, leva a medidas protecionistas na área agrícola, contribui para estratégias de redução da dependência das cadeias globais de valor e torna ainda mais incertas as transformações na geopolítica mundial, em especial quanto ao papel da China. A Rússia e a Ucrânia respondem por 53% do comércio global de óleo de sementes de girassol e 27% do trigo. A Rússia é a principal fornecedora de gás para a principal economia da União Europeia, a Alemanha. A Organização Mundial de Comércio (OMC) já identificou a adoção de medidas restritivas às exportações, como forma de assegurar a oferta doméstica ou conter a inflação, por exemplo: a Rússia suspendeu as exportações de fertilizantes e de grãos, a Indonésia colocou medidas restritivas em relação às vendas de óleo de palma no comércio mundial e a Argentina cogita introduzir impostos sobre as exportações de óleos vegetais.

Para o Brasil, o principal efeito no mapeamento dos efeitos diretos da guerra se refere à oferta de fertilizantes e ao aumento no preço das commodities agrícolas e de petróleo. A Rússia respondeu por 23,3% das importações brasileiras de produtos classificados como fertilizantes em 2021, seguida pela China, com 13,7%, Marrocos, com 10,5%, Canadá, com 9,8% e Estados Unidos, com 5,7%. Como a redução da oferta da Rússia afeta todos os países, a avaliação dos especialistas agrícolas sobre o impacto na produção agrícola brasileira tem que levar em consideração os estoques de fertilizantes no Brasil, o cronograma do plantio das safras, o potencial de diversificação da pauta de importações, e a duração da guerra. 

Inflação

O aumento dos preços das commodities já estava em curso, desde 2021, sendo destacado como um dos fatores que explicam o aumento da taxa de inflação no país. Além da elevação do preço do trigo, a questão do aumento do preço do petróleo tem prioridade na agenda da política econômica brasileira. Em outras palavras, guerra se traduz em um novo choque de custos para a inflação no Brasil.

Por último, a guerra vem reforçar a tendência de desaceleração da globalização que já vinha ocorrendo, desde final dos anos de 2010, conforme destacado na seção do “Setor Externo” do Boletim Macro do IBRE de março de 2022. Ressaltamos uma dúvida: se essa desaceleração levará a uma fragmentação do comércio e das finanças em situação de tensões ou se é possível uma convivência pacífica nesse mundo multipolar. Não é uma questão a ser resolvida no futuro imediato. Do nosso ponto de vista, o elemento chave para essa resposta é a forma como as relações bilaterais China e Estados Unidos seguida da relação China-Grandes Economias da Europa, irão reagir. Esse já era um tema na agenda internacional e a guerra da Rússia vem colocar a China num teste quanto a forma de se conduzir num cenário global onde o Ocidente possui mais instrumentos para exercer seu poder. 

Para o Brasil, um país com interesses comercias com a China  e o Ocidente, fica o desafio de construir uma estratégia que atenda aos interesses dos setores domésticos que operam na economia mundial. 

Petróleo

A variação no valor exportado das commodities superou o das não commodities. Tanto em termos de volume como preços, os índices das commodities foram superiores ao das não commodities: para o volume, as commodities cresceram 21,5% e as não commodities, 17,5%; no caso dos preços, o aumento das commodities foi de 14,3% e das não commodities, de 10,1%.

Os resultados para os índices das importações mostram, porém, diferenças mais acentuadas. Destacam-se os aumentos nos preços tanto das commodities como das não commodities em 51,8% e 32,2%, respectivamente, ambos superiores ao da variação no volume. 

O setor de petróleo e derivados participou com 14% e 11% das exportações e importações brasileiras, em 2021, e ilustra o aumento nos preços das commodities. Ademais, destaca-se o saldo comercial do grupo petróleo e derivados que é superavitário, desde 2016. Em 2021, o superávit foi de US$ 14,3 bilhões. Chama atenção, a maior elevação nos preços das importações do que nas exportações e a menor diferença no caso dos volumes. A desvalorização do real influencia esse resultado, mas com as incertezas trazidas pela guerra essa tendência poderá se acentuar.

O setor agropecuário registrou uma variação de 91,6% em volume e de 32,3% nos preços, na comparação entre os dois primeiros bimestres de 2021 e 2022. Foi o setor com o melhor desempenho em termos de volume e preços. Nas importações, as maiores variações foram na atividade extrativa. Na agropecuária, o aumento das exportações de soja, que foram em valor de 314%, influenciam esse resultado. Na extrativa, o comércio de petróleo lidera esse resultado.

A China lidera os principais mercados de exportações do Brasil, com participação de 24% na pauta do país. O crescimento, em volume, foi de 4,1% e de 12,3%, em valor. Entre os três principais produtos exportados — soja, petróleo e minério de ferro — apenas a soja registrou variação positiva, de 312%. Isso explica que o país tenha registrado a menor variação em volume comparada com os outros mercados. Para os Estados Unidos, o aumento em volume foi de 17,3% e em valor de 50,2%. O desempenho nesse mercado está associado ao aumento de 365%, em valor,  das exportações de petróleo, com participação na pauta de 14%, seguido de semimanufaturas de aço (participação de 12% e crescimento de 36%) e café não torrado (participação de 6,4%, crescimento de 62,4%).

Saldos

Nas importações, a China sobressai com o registro da maior variação em volume, enquanto que para todos os outros mercados, exceto os Estados Unidos, as importações recuaram.

Em termos dos saldos bilaterais, o comércio com a China foi superavitário em US$ 590 milhões e deficitário com os Estados Unidos em US$ 2,8 bilhões. Se considerarmos toda a Ásia, porém, o saldo bilateral é positivo em US$ 2,3 bilhões. No caso da América do Sul, o superávit foi de US$ 1,7 bilhões. A política comercial não deve se guiar pelos resultados dos saldos comercias, mas esses sugerem estratégias diferenciadas por regiões/países.

O aumento nos preços de importações reduz os termos de troca que estão numa tendência declinante, desde agosto de 2021. Entre os dois primeiros bimestres de 2021 e 2022, os termos de troca recuaram em 13,4%. Os resultados para o primeiro bimestre do ano mostram que a guerra reforça a tendência, já em vigor, do aumento dos preços das commodities e deixa, por enquanto, incertezas quanto aos efeitos sobre a queda do comércio mundial e da oferta de suprimentos, em especial dos fertilizantes, para um dos líderes das exportações brasileiras, o setor agrícola.

Os resultados para o primeiro bimestre do ano mostram que a guerra reforça a tendência, já em vigor, do aumento dos preços das commodities e deixa, por enquanto, incertezas quanto aos efeitos sobre a queda do comércio mundial e da oferta de suprimentos, em especial dos fertilizantes, para um dos líderes das exportações brasileiras, o setor agrícola.

(FGV IBRE)

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