Uma pesquisa publicada ontem pelo portal G1 mostra que houve um saldo negativo entre empresas abertas e fechadas nos seis primeiros meses de 2023: foram 427.934 fechamentos acima do número de aberturas de empreendimentos. Quando estendemos esse estudo até o início do quarto semestre de 2022, o resultado é preocupante. Cerca de 2,8 milhões de empresas fecharam as portas, contra a criação de 2 milhões de negócios (esses dados excluem as MEIs, que representam os empreendedores individuais).

Isso é culpa do governo de Luiz Inácio Lula da Silva? Não necessariamente.

Quando analisamos a série de aberturas e fechamentos de companhias, vemos que houve uma mudança significativa ao final de 2021. No último trimestre daquele ano, tivemos 20 mil fechamentos a mais que aberturas, interrompendo uma série positiva que vinha pelo menos desde o primeiro trimestre de 2019.

O que ocorreu de diferente em 2021?

Os juros aumentaram fortemente. A taxa Selic saiu de 2 % para 9,25 % anuais (no ano seguinte, chegaria a 13,75 %). Essa pancada foi suficiente para trazer sérios problemas de caixas para todas as empresas – especialmente aquelas que estavam penduradas nos bancos, que viram o custo do capital de giro mais que quadruplicar em um ano. O resultado foi o início de uma sequência bastante ruim.

O comércio, cuja atividade está bastante ligada aos juros cobrados no mercado, sofreu muito neste período. Um exemplo está nos resultados do último trimestre: tivemos 129.515 empresas fechadas contra 61.685 aberturas. Na prática, isso significa que para cada empresa que foi aberta, duas foram fechadas. Mas o problema dos varejistas não esteve circunscrito às oscilações das taxas: os consumidores também se retraíram em 2023.

Além dos juros altos, os mercados foram acometidos por incertezas desde o início do novo governo. A preocupação de economistas e dos analistas de finanças foi uma só: como ficariam as contas públicas sob um governo do PT? Esse temor deveria ter sido dissipado com a aprovação do novo arcabouço fiscal e das metas divulgadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que pretende chegar ao final de 2024 com déficit zero nas contas públicas.

Em tese, isso deveria animar a Faria Lima. Mas poucos banqueiros põem fé na capacidade de Haddad cumprir essa meta – mas também acham ruim rebaixá-la. As incertezas, de maneira geral, colaboraram para uma visível piora do clima de negócios, embora os resultados do PIB mostrem um crescimento acumulado de 3,7 % se comparado com igual período de 2022.

A posse de Lula também foi uma ducha de água fria sobre boa parte do empresariado, que desanimou o mercado. Mesmo assim, esse efeito não foi maior do que o observado pela manutenção dos juros altos (situação inevitável em função da inflação que surgiu forte desde 2021).

Por fim, há outro fator que explica parte deste número alto de quebradeiras. Segundo dados do Sebrae, cinco entre dez empresas fecham suas portas antes de dois anos de existência. Portanto, uma parte dessas companhias que fecharam fazem parte de uma estatística existente no Brasil há muito tempo.

Como se pode ver, os empresários estão vivendo dificuldades já algum tempo, antes mesmo da posse de Lula. Dessa forma, se o presidente quiser botar a culpa da pasmaceira econômica nas costas dos empresários (como fez Dilma Rousseff no início de 2016), melhor pensar duas vezes e ver que a vida não está fácil para quem tem holerites para pagar desde 2021.