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Exame: criptomoedas voltaram a subir em 2023

Valorização de mais de 150% do bitcoin foi maior destaque do ano

No final de 2022, a maioria dos investidores de cripto provavelmente não acreditariam em quem dissesse que o bitcoin terminaria o próximo ano com uma alta de mais de 150%, as criptomoedas como um todo se recuperariam e tanto os ativos quanto a tecnologia blockchain teria uma intensa adoção institucional. Entretanto, foi exatamente isso que aconteceu.

Em um ano marcado por altos, baixos e períodos de grande lateralidade, o mercado de criptoativos teve uma forte recuperação em 2023, encabeçada pelo seu indisputável líder – o bitcoin. Além disso, vários outros projetos, inclusive a Ethereum, tiveram novidades e mostraram uma resiliência considerável.

Com isso, o setor chega ao fim de 2023 em uma situação significativamente melhor e com mais maturidade que ao final de 2022, quando o mercado foi abalado por um forte ciclo de queda, falências de diversas empresas – incluindo a FTX – e uma aparente resistência entre empresas tradicionais e investidores institucionais em relação a um segmento e tecnologia novos. O cenário, agora, é outro.

Recuperação no mercado

A principal palavra do mercado cripto em 2023 foi recuperação. E ela começou já no início de janeiro deste ano. À época, a alta do bitcoin e outras criptomoedas começou principalmente pelo alívio nas projeções para o ciclo de alta de juros nos Estados Unidos. Com a visão de que o Federal Reserve adotaria uma postura mais branda e com altas menores, o que se confirmou, havia espaço para um retorno de investimentos em ativos mais arriscados.

Pouco tempo depois, porém, houve uma surpresa: diversos bancos regionais declararam falência nos EUA, prejudicados pelos juros altos. Entre eles, instituições como o Silicon Valley Bank. Entretanto, os criptoativos mostraram resiliência e continuaram subindo, com uma exceção: a stablecoin USDC chegou a perder sua paridade com o dólar depois de ser revelado que uma parte das suas reservas estavam no SVB.

No fim, a situação foi resolvida e a paridade, recuperada. Já a alta do bitcoin dividiu opiniões. Alguns a justificavam pela perspectiva de que as falências levariam o Fed a ser ainda mais branco na alta de juros. Outros apontavam que o caso confirmava o bitcoin como reserva de valor e alternativa no mercado, algo indicado pela alta menor de outras criptomoedas.

Porém, essa alta acabou tendo vida curta. A partir de junho, o mercado passou a enfrentar uma forte estabilidade, associada principalmente a uma postura mais rígida da SEC em relação às empresas de criptomoedas, com diversas processadas. Ao mesmo tempo, o Fed reduziu a intensidade das altas de juros, mas não na suavidade esperada.

Esse quadro de lateralidade que atingiu o bitcoin e outros ativos seria quebrado apenas em outubro. A grande novidade, porém, acabou sendo a mais importante do ano. A BlackRock, maior gestora de ativos do mundo, revelou que havia entrado com um pedido para lançar um ETF de preço à vista de bitcoin nos Estados Unidos. Em pouco tempo, diversas gestoras entraram com pedidos semelhantes.

A sinalização de adoção e validação por instituições tradicionais do mercado, e a perspectiva de uma forte entrada de capital de investidores institucionais com a aprovação, foi o suficiente para fazer o mercado de criptomoedas disparar. O bitcoin, por exemplo, chegou ao maior patamar de preço registrado em 2023, acima dos US$ 40 mil, onde permanece desde então.

Em pouco tempo, a alta também chegaria a diversos projetos, com a euforia e otimismo voltando ao mercado e sinalizando um 2024 com potencial de ser ainda mais positivo em meio à combinação do fim do ciclo de alta de juros nos EUA, o aguardado lançamento de ETFs e o tão esperado halving do bitcoin.

O avanço da regulação

Se o desempenho dos ativos foi o grande ponto positivo do mercado cripto em 2023, foi na seara da regulação e aplicação de leis que o setor teve mais notícias negativas. Entretanto, nem tudo foi ruim. Os maiores destaques foram o avanço de regulações em jurisdições importantes, em especial no Canadá e na União Europeia, que aprovou o MiCA.

Já no Brasil, o Marco Legal das Criptomoedas entrou em vigor e o Banco Central foi definido como entidade reguladora das empresas, com a CVM ficando responsável por ativos digitais classificados como valores mobiliários. A autarquia encerrou 2023 lançando a primeira consulta pública referente à criação de regras específicas para o setor, enquanto a CVM publicou ofícios em torno dos tokens de renda fixa. Houve ainda, a CPI das Pirâmides Financeiras, que criou recomendações para novas leis para o setor.

No lado negativo, a piora da relação entre a SEC e empresas de cripto foi o grande destaque. O regulador abriu diversos processos em 2023: multou a corretora Kraken e a levou a encerrar seu serviço de staking, fez com que a Paxos deixasse de emitir a stablecoin BUSD para evitar um processo e abriu ações contra a Binance e a Coinbase.

Por outro lado, o regulador também teve derrotas neste ano. Seu argumento de que todas as criptomoedas com exceção do bitcoin e do ether são valores mobiliários perdeu força com a vitória da Ripple em um processo sobre o XRP. Além disso, a SEC perdeu sua maior justificativa para negar pedidos de ETFs de bitcoin após a vitória da Grayscale em outra ação.

E a Binance, maior exchange do mundo, surpreendeu o mercado ao anunciar um acordo com as autoridades dos Estados Unidos em que admitiu ter violado leis de prevenção a lavagem de dinheiro. A corretora adotou medidas para aderir à legislação, mas sofreu uma multa bilionária e perdeu seu CEO, Changpeng Zhao, um dos maiores líderes do mercado cripto.

Zhao não foi o único magnata do segmento que teve um 2023 negativo. Sam Bankman-Fried, ex-CEO da FTX, foi preso e considerando culpado nos Estados Unidos pela sua participação nas atividades ilegais que levaram à quebra da corretora. A empresa, por sua vez, pode retomar suas atividades em breve.

Nicole Dyskant, advogada especialista em criptoativos e conselheira da Fireblocks, avalia que “o ano de 2023 foi de amadurecimento para o mercado cripto no Brasil e no mundo. Tivemos alguns percalços, certamente, mas escândalos foram necessários para trazer luz a onde era necessário, afastar os maus atores, e impulsionar regulações ao redor do mundo. E como avançou. Meu balanço é que o ano de 2023 foi muito positivo para o setor, em especial no Brasil, fechando com chave de ouro”.

Por João Pedro Malar

Publicado originalmente em: cutt.ly/OwGx6VQo

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