Nas redes sociais desta semana, o fechamento de uma tradicional loja de sapatos em São Paulo movimentou muitos internautas. O estabelecimento em questão se chama Casa Tody e existe há 70 anos. Muitos lamentaram o seu destino, se lembraram das botinhas ortopédicas que lá compraram quando crianças – ou dos sapatos que adquiriram para os filhos. O imóvel, que abriga uma decoração preservada há décadas, foi vendido e lá subirá um prédio. A decisão de vender a propriedade foi a falta de movimento: a Casa Tody, na gestão de sua herdeira, chegou a ter oito vendedores; hoje, são apenas dois.
Nesta semana, porém, o faturamento voltou a crescer, desde que circularam notícias de que o local iria cerrar as portas. Ontem, foi publicada uma reportagem sobre o assunto no jornal “Folha de S. Paulo”. Com essa matéria, é de se esperar que o fluxo de pessoas (clientes e curiosos) continue alto nos próximos dias.
No Instagram, no WhatsApp e no Facebook temos muita gente lamentando o fim dessa era. Mas a maioria esmagadora dessas pessoas deixou de comprar na Casa Tody há muito tempo, provavelmente preferindo o conforto de um shopping center (a loja fica na rua Augusta, entre Lorena e Oscar Freire).
Esse é um fenômeno comum: muitos reclamam sobre um determinado fato, mas poucos percebem que têm parte da responsabilidade naquele acontecimento. A situação da Casa Tody é exemplar: se a herdeira continuasse a vender razoavelmente não iria passar o imóvel adiante e fechar seu comércio. Mas acontece que os clientes desapareceram – e só retornaram quando ela já tinha assinado o contrato de venda do imóvel.
Na vida amorosa e na corporativa, damos valor geralmente a alguém que não está mais disponível (e percebemos isso tarde demais). Encaramos uma dor de cotovelo, escondida ou não, e seguimos em frente.
Com lugares icônicos, ocorre a mesma coisa. Gostamos de saber que aquela loja está lá, preservando uma parte de nosso passado, mas não compramos mais nela. E, quando o estabelecimento fecha as portas, nos sentimos aviltados e reclamamos. Mas o fato é que, se gostávamos tanto da Casa Tody, deveríamos ter feito mais compras lá.
Os estabelecimentos comerciais sofrem com a idade, pois as pessoas gostam de novidades, não de coisas antigas. Isso é até tolerado em restaurantes. Há vários que conservam seus projetos originais, com alguns retoques. Mas são raras as lojas que permanecem com suas decorações intocadas.
Não deixa de ser uma hipocrisia. Lamenta-se um símbolo que vai embora, mas nada se fez para mantê-lo. Que o exemplo da Casa Tody sirva de alerta para aqueles que pretendem manter intactos os ícones do comércio paulistano. Ninguém mantém uma loja aberta por diletantismo. Clientes são necessários.
Assim, se você gosta de uma loja antiga, não deixe de comprar neste estabelecimento. Depois, não adianta reclamar.
Uma resposta
Obrigada……
Essa msg verdadeira faz lembrar a quase 50 anos atrás quando meu filho era pequeno comprei a botinha dele na casaTody saudades da rua Augusta, dessa Época
Várias lojas que fazia parte , das lojas famosa , como camisaria ,sapataria , casa de tecidos importados etc deixou muita Saudades