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Viver o momento ou registrar a experiência?

Na semana passada, um vídeo ganhou notoriedade sem precedentes nas redes sociais: a gravação mostrava o momento em que chegava o ano novo em Paris (mais precisamente, na avenida Champs-Élysées, em frente ao Arco do Triunfo). O espetáculo pirotécnico ficou ofuscado pela quantidade absurda de telefones celulares registrando a cena. Praticamente todos os presentes à queima de fogos preferiu assisti-la através da telinha de seu smartphone do que captar o show de fogos a olho nu..

Nos meus dias de férias, fui a dois shows. Percebi que era um dos poucos na plateia a não sacar o celular nenhuma vez. E, em ambas as ocasiões, várias pessoas ficaram o tempo todo gravando o que acontecia no palco.

Fiquei matutando sobre essas ocasiões. E cheguei à conclusão de que entre viver o momento ou registrar a experiência, as pessoas em geral ficam com a segunda opção. Mas por que tem gente que prefere ver as coisas através de sua telinha particular?

Estamos em um mundo no qual boa parte das coisas não é nossa: não temos mais a propriedade de discos, livros ou filmes. Tudo está na nuvem ou em uma plataforma que acessamos. Os vídeos e as fotos que fazemos com nossos celulares, no entanto, se transformando em algo particular. Talvez essa seja uma forma de exercermos a propriedade sobre algum tipo de mídia, já que o formato físico acabou.

Mas, no fundo, também registramos as coisas com nossos aparelhinhos para compartilhá-las. Sem esse registro, nada tem graça nas redes sociais. Uma coisa é dizer: estive lá. Outra coisa é mostrar que esteve. No universo digital, definitivamente, uma imagem vale mais do que mil palavras. E o que dizer de um vídeo? Qualquer filminho tem mais importância que um livro de 300 páginas.

Mas compartilhar é algo que não termina no ato em si. O compartilhamento precisa gerar “likes” e comentários. Trata-se de uma forma pessoal e intrasferível daquilo que os americanos chamam de “show-off”. Assim, o mais importante é compartilhar para se exibir. Ou ostentar.  Ou construir uma imagem. Assim, tudo tem a ver com a vaidade, transformando os momentos da própria vida em uma oportunidade para exercer a presunção.

Nessas horas, lembro de uma amiga japonesa radicada no Brasil que tinha o hábito de viajar ao exterior e tirar fotografias quase que a cada minuto. Nos anos 1980, os orientais eram conhecidos por portar suas máquinas fotográficas e registrar muitos momentos – uma espécie de prenúncio do que ocorreria com todas as pessoas nos tempos de hoje,

Naquela década, havia um hábito: revelar as fotografias tiradas durante uma viagem e chamar os amigos para mostrar as reproduções (sei que é algo esquisito, mas as pessoas de fato faziam isso). Quando essa amiga voltou de Paris, vi uma foto que me impressionou e perguntei qual havia sido o local daquela foto. Ela olhou, olhou, olhou e me respondeu: “Não me lembro”.

Depois de alguns anos, encontrei essa amiga no aeroporto de Heathrow, quando ambos estávamos voltando ao Brasil. Não resisti e a questionei sobre quantos filmes ela havia utilizado na viagem. Ela, então, me disse que tinha feito poucos registros desde a viagem para Paris. Eu não tinha sido o único a perguntar sobre suas fotos naquela ocasião – e ela também não se recordava muito das outras fotografias. Desde aquele momento, assim, ela decidira que iria ficar mais tempo observando os locais em vez de tirar fotos rapidamente e partir para o próximo destino.

Não vejo essa amiga há mais de vinte anos. E imagino, agora, como ela estará se portando com um celular nas mãos. Será que ela manteve a sua decisão ou voltou ao comportamento antigo, registrando cada segundo em seu celular?

Provavelmente, não exista comportamento certo ou errado. Há gente que vai preferir fotografar tudo e outros, como eu, que optam pela lente dos olhos e o hard disk da memória. Nessas horas, porém, o importante é fazer aquilo que nos deixa felizes – sem ligar para a opinião dos outros (a minha inclusive).

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