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O tédio criativo

Não, você não leu errado. O título deste artigo não versa sobre o tal “ócio criativo”, de autoria do sociólogo italiano Domenico De Masi, falecido recentemente. O tema é o tédio que pode levar alguém à criatividade. Essa imagem me veio à cabeça ao ler a biografia de Elon Musk (imagem), escrita por Walter Isaacson, o mesmo que lançou, em 2011, o livro sobre a trajetória de Steve Jobs.

Musk passou boa parte de sua infância e adolescência imerso em livros – e boa parte disso se devia a um tédio incomensurável, muitas vezes gerado pela Síndrome de Aspeger, que é considerada uma forma moderada de autismo. Esta síndrome afeta habilidades de socialização, o contato com o mundo externo e a capacidade de se comunicar ou de expressar emoções. O indivíduo que está inserido neste universo tem enorme dificuldade para encontrar desafios intelectuais e, assim, leva uma vida tediosa.

O futuro bilionário, então, ficava lendo livros por horas a fio. Concentrou-se bastante em publicações técnicas e de física – além de várias obras de ficção científica. Com isso, acumulou um conhecimento invejável para quem estava apenas entrando na fase adulta da vida. Mas, como tinha grandes dificuldades em falar com os outros, passava muito tempo sozinho e entediado.

Elon Musk usou o tédio em seu favor. E aproveitava a solidão para juntar seus conhecimentos técnicos com aquilo que lia nos livros de sci-fi. Adulto, se tornou conhecido justamente por conta de duas de suas obsessões adolescentes: carros elétricos e viagens espaciais.

O tédio, assim, foi a mola propulsora para implementar suas ideias e tirá-las do papel.

Musk precisa receber muito crédito por esse comportamento. O tédio é capaz de dizimar o otimismo de uma pessoa e transformá-la em uma incapaz. A sensação de que tudo é monótono e desinteressante (algo que não é privilégio dos gênios) destrói o caráter dos indivíduos, tornando-os amargurados e depressivos. Além disso, é um vazio que se retroalimenta e transforma a vida em moto-contínuo, no qual nada acontece porque as pessoas não fazem nada.

Muitos pensadores já produziram obras sobre o tédio. O filósofo Walter Benjamin foi um deles. Para Benjamin, essa sensação é “o pássaro dos sonhos que choca o ovo da experiência”. Mas a experiência tediosa pode ser efêmera. “Um farfalhar nas folhas afasta este pássaro rapidamente”, diz o filósofo.

O cartunista Saul Steinberg ia mais além, fazendo uma ligação direta entre os que sofrem uma existência tediosa com a criatividade. “A vida dos criativos é liderada, dirigida e controlada pelo tédio”, diz Steinberg. “Evitá-lo é um de nossos maiores propósitos na vida”.

Não está ligando o nome à pessoa?

Steinberg foi o responsável por várias capas da revista “The New Yorker”, incluindo a antológica “Vista do mundo da Nona Avenida”, de 1976, que resume como os nova-iorquinos enxergam o restante da América do Norte. Trata-se de uma das ilustrações mais plagiadas do planeta, adaptadas para as mais diversas situações.

Não fosse Steinberg alguém motivado a fugir do tédio o tempo todo, talvez não tivéssemos essa obra definitiva para nos divertir – ou carros elétricos de qualidade, no caso de Musk. E, ainda em relação ao bilionário sul-africano, talvez precisaremos agradecer ao tédio que ele sentia durante a adolescência se, um dia, as viagens espaciais de turismo ou excursões para Marte virarem uma realidade em nossas vidas.

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