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Como é que a taxa de emprego aumenta e o seguro-desemprego cresce?

Certos dados macroeconômicos são difíceis de entender no Brasil. Um exemplo é a recente alta de juros em um cenário em que os índices inflacionários apontam para baixo (há, evidentemente, explicações plausíveis para a decisão de elevar as taxas, especialmente no campo da responsabilidade fiscal e do crescimento da massa salarial e do consumo). Na semana passada, porém, um dado chamou a atenção de analistas econômicos: a taxa de emprego subiu e os pedidos de seguro-desemprego também cresceram.

A lógica diz o contrário. Se o emprego subiu, o seguro-desemprego deveria, na outra ponta, cair. Mas não foi o que aconteceu. A taxa de desocupação, também conhecida como taxa de desemprego, recuou para 6,6% no trimestre encerrado em agosto deste ano, segundo o IBGE. Já as solicitações de seguro-desemprego chegaram, no acumulado em 12 meses, a 7,35 milhões em julho deste ano (foram 6,98 milhões de agosto de 2022 a julho de 2023). O total de segurados também cresceu de 6,15 milhões em julho de 2023 para 6,32 milhões em julho deste ano.

Não é a primeira vez que isso acontece.

Entre 2003 e 2014, por exemplo, a taxa de desemprego no país caiu de 12,3% para 4,7%. No mesmo período, o gasto com seguro-desemprego foi de R$ 6,6 bilhões para R$ 35 bilhões por ano. Neste cálculo, não está computada a inflação do período. Mas, mesmo assim, o crescimento dos dispêndios foi significativo.

A diferença entre as décadas passadas e a atual é que houve um movimento muito forte de formalização de empregos no intervalo 2003-2014, provocando uma disparada nos pedidos de seguro conforme as demissões ocorriam. Hoje, no entanto, as razões são diferentes.

Entre os analistas econômicos, fala-se em rotatividade para explicar o fenômeno. Assim, muitos desempregados deixam as estatísticas de desocupação porque substituiriam trabalhadores menos qualificados. É uma hipótese que ganha corpo quando vemos os dados mais recentes do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).

Segundo os últimos dados do Caged, a contratação de estrangeiros bateu recorde entre janeiro e agosto. O saldo entre admissões e demissões de imigrantes cresceu 53% em relação ao mesmo período de 2023. Dessa forma, o número total de estrangeiros com carteira assinada chegou a 321.196 pessoas. Trata-se do maior volume já observado no país desde 2020 (entre as nacionalidades dos contratados, os venezuelanos e cubanos têm destaque).

Outro fator que explique a rotatividade do mercado brasileiro pode ser o ambiente reinante em muitas empresas. Uma pesquisa do Instituto Gallup, divulgada nesta semana, mostra que 46% dos brasileiros se sentem estressados no trabalho. Até aí, tudo bem. Escritórios, lojas e indústrias não são locais de lazer. Mas chama a atenção outros índices mostrados no estudo (que abrangeu 128 000 entrevistados em 160 países).

São cerca de 18% os brasileiros que sentem raiva diária em seus empregos e 25% que experimentam algum tipo de tristeza todos os dias (nestes quesitos, o Brasil é o quarto no ranking da América Latina). Ou seja, 43% de nossa população economicamente ativa experimenta sentimentos inadequados para realizar tarefas de maneira satisfatória e produtiva.

Trata-se de um índice preocupante. Na prática, temos quase a metade da força de trabalho se sentindo frustrada. A frustração – nascida na raiva ou na tristeza – nunca é boa conselheira, especialmente em uma nação que precisa melhorar seus níveis de produtividade e engajamento.

Se estamos com o mercado de trabalho aquecido e muita gente usando o seguro-desemprego, a sensação é a de trocar seis por meia dúzia. De nada vai adiantar termos a menor taxa de desemprego dos últimos anos a massa de desocupados crescer em proporções inusitadas.

Para elevar efetivamente o patamar do emprego no Brasil, será preciso que os empresários invistam para valer e criem novas vagas. Mas isso só acontecerá quando houver a certeza de que a economia brasileira não passa por um novo voo de galinha. Isso ocorrerá no curto prazo? Dificilmente.

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