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A época em que algumas regras eram solenemente ignoradas

Talvez pela centésima vez, vi um vídeo que mostra cenas gravadas na Rua Augusta, em São Paulo, na década de 1960. Esta gravação surgiu na tela inicial do YouTube e, como das vezes anteriores, parei para admirar antigos DKWs, Fuscas e Impalas. Mas, nesta ocasião, percebi algo que não tinha visto antes: um monte de gente atravessando a rua fora da faixa de pedestres.

Confesso que fiquei surpreso. Mas depois, puxando pela memória, me recordei que isso era absolutamente comum em minha infância e adolescência. Atravessar a rua aleatoriamente era regra; respeitar a faixa era exceção.

Faço parte de uma geração que cresceu sem respeitar determinadas regras – era a época da lei que pegava e da lei que não pegava. Além de atravessarmos as ruas no lugar que desejávamos, andávamos de motocicleta sem capacete, não usávamos cinto de segurança nos automóveis e os adultos fumavam seus cigarros em todos os lugares, incluindo aviões (nos quais havia uma inútil separação entre passageiros fumantes e não-fumantes).

Curiosamente, muitos dos meus contemporâneos exaltam hoje essa liberdade do passado – e também idolatram esses tempos politicamente incorretos, em que piadas envolvendo minorias eram contadas sem vergonha ou pudor.

Mas será que eram tempos melhores que o atual?

Alguns amigos se queixam das amarras que a sociedade atual impinge a todos e como a vida fica mais chata assim. Talvez as novas gerações não concordem com isso. Afinal, essa é a realidade deles. São jovens que não conhecem outra vida e foram criados condenando o racismo, a homofobia, o descuido com o meio ambiente e qualquer ataque às minorias. Os mais velhos sentem falta do passado por nostalgia e saudosismo, vá lá – mas devem concordar que é melhor viver em uma era na qual as pessoas atravessam a rua na faixa, usam cinto de segurança e capacetes, além de não fumar em recintos fechados.

Duas dessas regras que são seguidas por todos nós foram institucionalizadas em São Paulo (antes de validadas nacionalmente) pelo então prefeito Paulo Maluf – o mesmo que foi condenado por corrupção em 2017 e cuja família fechou um acordo há poucos dias para ressarcir à Prefeitura R$ 210 milhões, por conta desvios nas obras do túnel Ayrton Senna e avenida das Águas Espraiadas (atual Jornalista Roberto Marinho).

Com o tempo, todos se acostumaram com essas normas. Mas houve uma revolta inicial durante algum tempo sobre capacetes, cintos de segurança e fumo nos locais públicos. Muitos diziam se sentir presos com o cinto em um carro – mas utilizavam o mesmo acessório sem grandes problemas em aviões de carreira. Vai entender.

De minha parte, sempre fui um defensor do uso do cinto, desde minha adolescência. Certa vez, fui viajar a Ubatuba com um amigo de escola, que já tinha dezoito anos e possuía uma VW Brasília. Na volta, entramos em um engavetamento na Via Dutra. Se não estivesse usando cinto de segurança, teria sido ejetado pelo para-brisas.

Desde então, passei a prestar atenção às regras e a cumpri-las. Mas confesso que demorei para atravessar a rua na faixa de pedestres. Mas acredito que o mundo de hoje seja melhor do que o do passado por conta de alguns detalhes — como o uso do cinto de segurança.

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