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Polícia usa bombas de gás para afastar manifestantes no Museu Nacional após incêndio

Por Gabriel Stargardter

RIO DE JANEIRO (Reuters) – Policiais usaram bombas de gás para afastar dezenas de pessoas que se reuniram no entorno do Museu Nacional nesta segunda-feira para manifestar apoio à instituição após um incêndio devastador da noite de domingo que atingiu o emblemático prédio na zona norte do Rio de Janeiro.

Imagens aéreas transmitidas ao vivo pela emissora GloboNews mostraram policiais lançando bombas de gás e usando cassetetes para afastar algumas dezenas de pessoas que tentavam entrar pelos portões do local, que foi isolado pela polícia.

Após o incêndio de domingo, a fachada amarela do Museu Nacional, que já serviu como Palácio Imperial, permanecia de pé na manhã desta segunda-feira, mas suas grandes janelas revelavam corredores queimados e vigas de madeira carbonizadas em um interior sem teto.

De vez em quando, bombeiros saíam do prédio com um vaso ou pintura que conseguiram resgatar após o incêndio de domingo, cuja causa ainda não foi determinada por autoridades.

Pesquisadores, estudantes e outros funcionários do museu, onde 20 milhões de itens foram provavelmente destruídos, se reuniam em pequenos grupos do lado de fora do prédio se consolando e limpando lágrimas.

O vice-diretor do museu, Luiz Duarte, disse à emissora GloboNews que a instituição vinha sendo negligenciada por sucessivos governos federais e que o financiamento de 21,6 milhões de reais anunciado em junho incluía, ironicamente, um plano para instalar equipamentos modernos de proteção contra incêndios.

O comandante do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, Roberto Robadey, disse a repórteres nesta segunda-feira que os dois hidrantes localizados do lado de fora do prédio estavam secos. Isso forçou bombeiros a utilizarem água de um lago próximo para abastecer os caminhões, mas as chamas consumiram o prédio rápido demais.

“Em um mundo ideal, nós teríamos muitas coisas que não temos aqui: sprinkler dentro da edificação”, disse Robaday, acrescentando que o Corpo de Bombeiros irá avaliar sua resposta ao incêndio e tomar medidas se necessário. “Ontem foi um dos dias mais tristes da minha carreira”.

Renato Rodriguez Cabral, professor de geologia e paleontologia do Museu Nacional, disse que o declínio do museu não aconteceu de um dia para o outro.

“Isso não é de hoje. É uma tragédia anunciada desde 1892 quando o museu veio para cá”, disse Cabral enquanto abraçava alunos e colegas de trabalho. “Sucessivos governos republicanos nunca deram dinheiro, nunca investiram em infraestrutura”.

Cabral disse que o prédio recebeu novas fiações há 15 anos, mas que claramente não havia um plano suficiente para proteger o museu de um incêndio, acrescentando: “Os bombeiros praticamente assistiram ao incêndio”.

“Para a história e ciência brasileiras, isso é uma tragédia completa”, disse. “Não tem como recuperar o que perdemos”.

MENOS RECURSOS

O museu, ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ao Ministério da Educação, foi fundado em 1818. Seu acervo contava com diversas coleções importantes, incluindo artefatos egípcios e o fóssil humano mais antigo encontrado no Brasil.

De 2013 para cá os recursos destinados ao local caíram significativamente, embora tenham oscilado ano a ano, segundo levantamento da Consultoria de Orçamento da Câmara dos Deputados.

De janeiro a agosto de 2018, foram pagos apenas 98.115 reais à instituição, sendo 46.235 reais via UFRJ, para funcionamento do museu, e outros 51.880 reais pelo Ministério da Cultura, para concessão de bolsas de estudo. No total, a cifra corresponde a 15 por cento da verba de 2017.

De acordo com o levantamento da Câmara, o total de recursos recebido pelo museu foi de 979.952 reais em 2013 e de 941.064 reais em 2014, com forte recuo em 2015, quando passou a 638.267 reais. Em 2016 houve alguma recuperação, para 841.167 reais, valor que novamente voltou a cair no ano passado, para 643.568 reais pagos.

A destruição do prédio, onde imperadores já viveram, foi uma perda “incalculável para o Brasil”, disse o presidente Michel Temer em publicação no Twitter. “Foram perdidos 200 anos de trabalho, pesquisa e conhecimento”.

O Palácio do Planalto não respondeu de imediato a pedidos por comentário sobre as alegações de negligência.

(Reportagem adicional de Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro, e Marcela Ayres, em Brasília)

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