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O legado de Arnaldo Jabor

O cineasta e jornalista morreu hoje, deixando o país menos inteligente

Arnaldo Jabor foi um dos maiores diretores do cinema nacional. O primeiro filme dele que assisti foi “Toda Nudez Será Castigada”, ainda adolescente. Ele aproveitou ao máximo o texto original de Nelson Rodrigues e extraiu de seus atores principais (Paulo Porto e Darlene Glória) toda a ambiguidade e sordidez necessárias para compor os respectivos personagens. A trilha sonora, que repete sistematicamente a música “Zum”, do argentino Astor Piazzolla, turbina a dramaticidade de várias cenas e se tornou uma das marcas registradas da película.

Voltei a Jabor em 1981, quando ele lançou “Eu Te Amo”, uma produção de Walter Clark, ex-diretor-geral da TV Globo (a trama, por sinal, foi gravada onde Clark morava, na Lagoa, bairro do Rio de Janeiro). A fórmula que misturava drama e sexo em um apartamento, talvez uma referência a “´Último Tango em Paris”, foi revisitada em “Eu Sei que Vou Te Amar”, de 1986. A diferença é o diretor inseriu pitadas de humor na obra mais recente (a cena em que Fernanda Torres conta um encontro com um engenheiro da Vale do Rio Doce é hilariante) e conseguiu humanizar mais os papéis principais.

Colunista e comentarista

Mas ele ganhou notoriedade mesmo como comentarista do Jornal Nacional, quando se tornou uma voz crítica ao então presidente Fernando Henrique Cardoso. Dono de um humor ferino e implacável, ele desnudava a vaidade de FHC como ninguém – e comentava com agudeza muitos fatos da política brasileira, temas que explorava também em sua coluna no jornal O Globo. Mais à frente, também alfinetaria com frequência Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff em seus comentários. O sucesso na TV e no jornalismo abriu as portas para o mundo literário: seus livros foram best-sellers imediatos e permaneceram nas listas dos mais vendidos por muito tempo.

Jabor expunha as mazelas brasileiras com muita clareza e fina ironia. Por isso, foi o primeiro escritor a ser creditado como autor de peças que circulavam pela internet. Seu nome foi usado em inúmeros textos – vários deles muito mal escritos, pecado que o cineasta-escritor jamais cometeria.

Cinema novo: a primeira escola

Com Jabor, perdemos alguém que conseguia enxergar os problemas do país como poucos. E que não poupava ninguém. Usava sua metralhadora sem piedade, como se tivesse nascido para o ofício de jornalista – logo ele, com diploma de Direito e cineasta de formação. Arnaldo Jabor mostrou que o mote de sua primeira escola profissional, o Cinema Novo (“uma ideia na cabeça e uma câmera na mão”), poderia valer para o ofício de colunista. Ele sempre nos brindava com uma forma diferente de enxergar um fato comentado por todos – pois privilegiava as ideias em vez dos acontecimentos.

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